Correr a maratona abaixo de duas horas? A Nike acredita que sim e apresenta as suas Zoom Vaporfly Elite, a Adidas segue com umas menos ambiciosas Adizero sub2.
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Os atletas tarimbados duvidam da meta e a Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF) vai investigar se pode haver "vantagem injusta" para quem tem a sorte de ser patrocinado para poder ver se é verdade - as Nike não vão estar à venda, nem adianta sonhar, e o mais parecido que propõe vale 250 euros (!).
O segredo da Nike - a leveza e o carbono na sola - trouxe de novo à tona a velha questão do doping tecnológico. Há dias, no final de um treino simples, falava-se em tempos, na necessidade de colocar o registo dos recordes a zero e de ver se, efetivamente, foi o corpo humano que se adaptou ao esforço (a preparação de hoje não terá muito a ver com a de antanho) ou se, dizia alguém, "já ninguém corre sozinho". Ora, se a evolução dos tempos tornou a despistagem anti-doping uma prática comum, ela existe para substâncias. E o equipamento? Quem recorda a polémica dos fatos de banho de corpo inteiro que arrasaram todas as marcas anteriores?
Vamos por partes: a marca de Dennis Kimeto data da Maratona de Berlim de 2014 e fixou-se nuns espantosos 2:02:57. O desafio sub2 assumido pelas multinacionais é tirar-lhe dois minutos e 58 segundos. Ou seja, menos 3%, uma queda de uma amplitude que seria inédita. Recorde-se, contudo, que cálculos feitos há 25 anos pelo investigador norte-americano Michael Joyner apontavam como limite fisiológico do homem para os 42.195 metros um tempo de 1:57:58.
A Nike arrisca tudo e promete menos 4% de dispêndio de energia do corredor, graças à leveza (200 gr), à aerodinâmica da sapatilha, inclinada para a frente, permitindo uma elevação traseira protetora do tendão de Aquiles, mas, sobretudo, à placa de fibra de carbono em forma de colher que transforma, dizem, um plano numa descida. "Correr com estas sapatilhas será como correr encosta abaixo: não se consegue correr devagar", garante quem desenvolveu as Vaporfly Elite.
Os cálculos da marca derivam de análises laboratoriais, a prova dos nove chama-se "Breaking2" e acontece em Maio, no asfalto circuito de Monza, em Itália, nos pés do queniano Eliud Kipchoge (campeão olímpico em 2016 e com recorde pessoal de 2:03:05), do etíope Lelisa Desisa (que bisou Boston e marca 2:04:45) e do eritreu Zersenay Tadese (recordista da meia maratona com 58:23). Menos 4% e estará no papo. A marca americana fala em "missão a Marte".
A proposta da Adidas é mais comedida - poupar 1% no tempo com uma sola de espuma especial que devolve a energia colocada na passada. O teste, por fazer, deverá ser entregue ao atleta do gigante desportivo: nem mais nem menos do que Kimeto.
Voltando à polémica, vejamos, como recorda do "El Pais": as próteses com que Pistorius competiu com atletas com pernas eram... de carbono. Não será esta discussão, apenas, uma questão de guerra entre marcas? Recordem-se as sapatilhas com 5 cm de sola que, nos pés do saltador russo Yuri Stepanov, roubaram em 1957 um recorde de 44 anos aos EUA, com um salto de 2,16 metros - foram proibidas anos depois; e as Puma de Tommie Smith, que ganhou os 200 metros no México, em 1968, estreando numa pista de tartan uma sola menos aderente - foram proibidas por pressão da Adidas...
Ora, se a evolução tecnológica serve o mundo e outros desportos, pode muito bem servir também a competição no atletismo. Entregue-se um par de magia a todos os que lutam pelo mesmo objetivo...