Testamento de Armani abre caminho à venda de parte do grupo e defende herdeiros
Aos 91 anos, Giorgio Armani partiu, mas deixou instruções claras sobre o futuro da sua marca e negócios. A Fundação Giorgio Armani assume agora o comando do império criado ao longo de cinco décadas.
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Giorgio Armani, o icónico designer italiano que transformou a moda numa expressão de sofisticação, morreu a 4 de setembro, aos 91 anos, em Milão. Rodeado pelos seus mais próximos, deixou um império avaliado em 12 mil milhões de euros e um legado empresarial que marcou o mundo da moda.
Uma semana depois, a 9 de setembro, o seu testamento foi oficialmente aberto num cartório notarial em Milão. Redigido de próprio punho e guardado em envelopes selados, o documento detalha como devem ser geridos o seu património e a marca Giorgio Armani. Os testamentos, datados de março e abril de 2025, foram mantidos em segredo até à sua morte.
Fundação garante continuidade do império
Sem filhos, nem casamento, Armani pôde decidir livremente sobre o destino do seu legado. Em 2016, criou a Fundação Giorgio Armani para proteger a independência da marca e assegurar que os seus valores perdurem. O testamento confirma agora que o controlo do grupo passará para esta fundação, cuja administração inclui pessoas do círculo mais próximo do designer, como Leo Dell"Orco, companheiro de vida e braço direito, e os sobrinhos Luca, Silvana e Roberta Camerana.
O documento revela também que Armani indicou potenciais compradores para uma participação inicial de 15% do grupo - indicando LVMH, L"Oréal ou EssilorLuxottica como grupos preferenciais - e estipula que uma parcela adicional, entre 30% e 54,9%, poderá ser vendida ao mesmo comprador nos cinco anos seguintes. Caso estas negociações não avancem, a Fundação deverá considerar a colocação da empresa em bolsa.
Herdeiros assumem papel estratégico
Leo Dell"Orco recebeu 30% das ações e 40% dos direitos de voto, assumindo um papel central na definição do futuro da empresa. Entre os restantes herdeiros ligados à gestão estão as sobrinhas Roberta e Silvana Armani, o sobrinho Andrea Camerana e a irmã Rosanna. Todos continuarão a desempenhar funções relevantes dentro da estrutura da Fundação.
A Fundação gerirá não só a marca, como também os 650 pontos de venda em 60 países, hotéis em Milão e Dubai, restaurantes, coleções de mobiliário, perfumes e o clube de basquetebol Olimpia Milano. Em 2024, a empresa registou receitas de 2.300 milhões de euros, mantendo viva a visão criativa de Armani.
O testamento inclui ainda uma cláusula que impede a entrada da empresa na bolsa durante cinco anos, assegurando autonomia na gestão e continuidade do legado. Além dos negócios, Armani deixou uma vasta coleção de arte, propriedades em Itália e no estrangeiro, iates e participação na EssilorLuxottica, cuja administração seguirá as instruções do notário.
Homenagem na Semana da Moda
Como tributo, as últimas coleções desenhadas por Armani serão apresentadas na Semana da Moda de Milão, entre 23 e 29 de setembro, com desfiles de Emporio Armani e Giorgio Armani nos dias 25 e 28. "Celebramos a Semana de Moda de Milão em memória de um dos seus fundadores: Giorgio Armani", afirmou Carlo Capasa, presidente da Câmara Nacional da Moda Italiana.
O município de Milão também prestará homenagem, confirmando a inscrição do designer no Famedio do Cemitério Monumental, reconhecimento reservado às figuras que contribuíram para engrandecer a cidade, refletindo a criatividade e o estilo que Armani deixou como legado.