O JN perguntou a três comentadores de futebol a opinião sobre o impacto do confinamento no clima de tensão entre adeptos. Leia abaixo.
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João Gobern, comentador da RTP e adepto do Benfica
Se existisse alguma coisa de bom seria fantástico
Dentro da desgraça e da calamidade provocadas pelo novo coronavírus se existisse alguma coisa de bom seria fantástico. O futebol português vai passar muitas dificuldades. Isso é ponto assente. A conjuntura atual uniu os presidentes dos três grandes, pela necessidade de sobrevivência, e era importante que se aproveitasse o momento para construir algumas pontes. Isso poderia ensinar-nos alguma coisa. Não sei se este tipo de "dar o braço a torcer" se pode aplicar às fações mais combativas das claques e adeptos, mas era uma belíssima oportunidade. Independentemente de quem vai ser campeão, e espero que seja o Benfica, poder decidir o título no relvado é um privilégio. É mais compensador jogar as 10 jornadas que faltam do que limitar a escolha à secretaria. Portanto, é necessário que exista respeito mútuo.
Rodrigo Roquette, comentador da SIC e adepto do Sporting
A minha obrigação é expor o que está errado. Doa a quem doer
Não têm de ser os adeptos ou comentadores a mudar. O estilo de comentário que é feito é apenas o reflexo do futebol que temos. Oxalá, um dia seja possível falar só de futebol em Portugal. Mas até lá não vamos branquear tudo aquilo que gira em torno do desporto-rei, só porque algumas pessoas não gostam de ouvir verdades. Da minha parte vou continuar a expor tudo o que está errado. Daquilo que infelizmente nos impede de falar apenas "de bola" e leva a conversas mais desagradáveis. Isto é real, como vimos inclusivamente nas últimas semanas. Portanto, a grande mensagem é esta. Não são os comentadores e os adeptos que têm de mudar. É o lodo do dirigismo português. E como comentador a minha obrigação é expor o que está errado. Doa a quem doer.
Miguel Guedes, comentador da TVI e adepto do F. C. Porto
Tensões não resistirão à primeira má decisão
O futebol precisa, mais do que nunca, de transmitir confiança e transparência para todos os adeptos. As reações dos adeptos e dos comentadores, globalmente, são o produto das emoções e abalos que o futebol cria, potencia e lhes serve. O futebol tem que se regenerar do ponto de vista da sustentabilidade competitiva e económica, com competência e com verdade desportiva. Caso não o faça, se não enunciar com clareza o que acontecerá caso apareçam casos positivos que obriguem a Liga a parar novamente, as tensões entre os adeptos não resistirão ao primeiro apito, ao primeiro caso ou à primeira má decisão. A pressão não aliviará pelo facto dos adeptos não poderem entrar nos estádios. Pelo contrário, numa altura de relativo desconfinamento, todos os focos de tensão serão direcionados para outros focos da vida familiar, comunitária e pública.