Histórico gaiense está de volta à elite da modalidade. Clube é amador e não vai gastar mais de 100 mil euros.
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Campeão da segunda divisão nacional de andebol, o Futebol Clube de Gaia vive uma fase de evidente afirmação na modalidade, encarando com otimismo o regresso à primeira divisão, após uma ausência de 16 anos.
O emblema gaiense está de volta à elite da modalidade, onde, na transição do século XX para o XXI, se manteve durante três épocas consecutivas. Campeão da segunda divisão em 1999/ /2000, a equipa do concelho de Vila Nova de Gaia esteve entre os grandes do andebol entre 2000/01 e 2002/03, mas depois viveu uma fase negativa, caiu até ao terceiro escalão, acabando, no entanto, por recuperar o fôlego nos últimos anos.
"A subida e o título são o corolário de um trabalho de três anos. O objetivo seguinte é estabilizar a equipa na primeira divisão", refere Pedro Rêma, vice-presidente do F. C. Gaia e que, auxiliado por António Moura e Jorge Teixeira, formam a estrutura diretiva do clube nesta modalidade.
À melhoria de condições e ao aumento de patrocinadores, a equipa conseguiu aliar resultados desportivos e ser campeã da segunda divisão nacional, trajeto que já podia ter encetado na temporada anterior, altura em que, além do bom desempenho no campeonato, o Gaia foi à final four da Taça de Portugal.
"Tudo foi pensado ao pormenor e acabámos por concretizar o que pretendíamos, mas ainda estamos a meio do trajeto", sustenta Ricardo Costa, treinador do Gaia.
Com um orçamento que oscila entre os 90 e os 100 mil euros, já englobando nestas contas todas as equipas na modalidade, o F. C. Gaia vai manter o estatuto de equipa amadora e é certo que não entrará em loucuras. "As motivações mantêm-se como até aqui. Vamos apostar em jovens que queiram crescer, acreditando que a primeira divisão é uma boa montra e possibilitará mais apoios, por parte das empresas locais", refere aquele dirigente.
Já o treinador, que vai permanecer à frente da equipa, encara com otimismo a presença entre os grandes. "O clube foi preparado para subir e vai abraçar a primeira divisão com toda a força e para ficar", salienta, confiante, Ricardo Costa.
Em termos competitivos, o F. C. Gaia terminou a participação no campeonato da segunda divisão nacional no primeiro lugar, com 43 pontos, mais um do que o Boavista, que também subiu ao principal escalão, enquanto o F. C. Porto B foi terceiro, com 35 pontos.
Clube voltou ao futebol em 2011 mas só fomenta as camadas jovens
Com quase 111 anos de existência, etapa que alcança no dia 15 de agosto, o Futebol Clube de Gaia é a mais antiga agremiação desportiva do concelho. Além do andebol, o clube fomenta o basquetebol (camadas jovens e seniores), o futebol (só de formação) e a ginástica (formação e competição). Embora o futebol tenha estado na génese da criação do clube, durante cerca de 60 anos a secção esteve suspensa, tendo sido retomada a prática da modalidade em 2011, com o F. C. Gaia a utilizar as instalações do Estádio Municipal da Lavandeira. Em tempos, o clube fomentou também a prática do atletismo e do futsal.
Autarquia apoia renovação do pavilhão
O F. C. Gaia joga no mesmo pavilhão há cerca de meio século, mas a infraestrutura foi recentemente alvo de melhoramentos e está apta a receber a elite do andebol português na próxima época. Situado na Rua de Fialho Almeida, uma artéria tranquila do concelho muito perto do centro, o pavilhão mantém a traça original, mas em 2017 foi possível concretizar uma velha aspiração do clube e dar um ar diferente à infraestrutura. Então, foram colocados um telhado e um piso novos, a entrada foi remodelada e o sistema de iluminação modernizado. O recinto tem capacidade para 1500 espetadores e serve ainda de casa do basquetebol deste emblema gaiense. Refira-se que as obras de reabilitação foram exclusivamente financiadas pela Câmara de Gaia, que tem apoiado o clube e sido um parceiro privilegiado, na procura do crescimento desportivo e no fomento das camadas jovens.
Pai Ricardo aproveita o talento de Martim
Ricardo Costa, técnico que nas duas últimas épocas orientou o F. C. Gaia, passou o "bichinho" do andebol aos filhos. Martim, de apenas 16 anos, que apontou 229 golos em 2018/19, foi um dos melhores marcadores da competição e uma das figuras da equipa que conquistou o título nacional da segunda divisão. "É um rapaz com talento e, sinceramente, para mim, é fácil orientá-lo, porque dentro de campo não há pai/filho, é mais um atleta a ajudar a equipa a concretizar os objetivos", explica o treinador do F. C. Gaia.
De resto, o jovem andebolista foi chamado, na última temporada, às seleções nacionais de sub-17, sub-19 e sub-21, o que deixa o pai "orgulhoso" e faz adivinhar um futuro brilhante na modalidade, na senda do progenitor.
Ricardo Costa não quer traçar metas, apenas refere a "satisfação" pelo desempenho do filho, dando nota que, na próxima temporada, o clã familiar vai aumentar no F. C. Gaia, por força da entrada do irmão de Martim, Francisco, de 14 anos, proveniente do Colégio dos Carvalhos e que tem de igual modo mostrado talento para a modalidade. Só que, em termos regulamentares e dada a idade, no máximo poderá jogar nos juniores.
Com 42 anos, 32 dos quais ligado ao andebol, Ricardo Costa tem um longo historial na modalidade. Chegou do F. C. Porto, mas sente não ter dado um passo atrás. "Nunca pensei assim. O F. C. Gaia é um histórico da minha cidade e acreditava que podia fazer um bom trabalho aqui. Os clubes são diferentes, mas o que gosto é de andebol", realça.
Duas décadas de dedicação premiadas com o título
Capitão de equipa do F. C. Gaia, Pedro Carvalho, 29 anos, está já há duas décadas no clube. Natural do concelho, passou por todos os escalões de formação até se fixar na equipa sénior e depois de, em 2012/13, ter ajudado a equipa a subir à segunda divisão, agora foi um dos protagonistas da promoção e da conquista do campeonato secundário.
"Foram dados passos em frente, com todo o mérito. O clube tem vindo a crescer de forma sustentada e acredito que tem capacidade para competir com os melhores do país. Claro que os três grandes estarão num nível diferente, mas com as outras equipas podemos equiparar-nos", projeta ao JN o ponta esquerda da equipa gaiense.
Satisfeito por, na próxima temporada ir cumprir "o sonho de jogar pelo F. C. Gaia na primeira divisão", Pedro Carvalho guarda na memória a anterior passagem do clube pelo escalão maior. "Tenho boas recordações desses tempos, com bom ambiente e muita gente a assistir aos jogos. Era infantil e ia ver os jogos, para aprender e apoiar", conta, com uma pontinha de saudade.
Licenciado em Economia, chegou a alimentar o sonho de ser profissional de andebol, mas acabou por ser praticante amador, estatuto que concilia com a profissão de gestor, numa empresa familiar. "Faço o que gosto e concilio com algo que me realiza. Sou muito feliz assim", concluiu.