Arteta tem de superar o mestre Guardiola para poder sonhar com a Premier League
O Manchester City-Arsenal desta quarta-feira pode revelar-se decisivo na corrida a dois pelo título inglês. Conseguirá o "discípulo" Mikel Arteta suplantar o "mestre" Pep Guardiola?
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A perseguição do Manchester City ao até aqui comandante incontestado da Liga inglesa Arsenal, líder isolado desde a 3.ª jornada, tem, esta quarta-feira, uma das etapas mais importantes até ao final da prova.
Com cinco pontos de atraso para os "gunners", mas menos dois jogos disputados, o City, que procura o tricampeonato inglês, joga com o conforto relativo de saber que só uma derrota o fará deixar de depender apenas de si para levantar novamente o troféu. Em caso de triunfo, o caminho para o título estende-se-lhe por diante, enquanto um empate obrigá-lo-á a uma reta final de época a roçar a perfeição, dependendo, claro está, do que fizerem os londrinos, que não ganham para a Premier League há três jogos consecutivos.
As contas do título estão, como se percebe, a fervilhar, mas mais do que puxar pela calculadora, o duelo de hoje impele-nos a fazer uma viagem no tempo até ao ano de 2016, quando Mikel Arteta, o atual treinador do Arsenal, decidiu pendurar as chuteiras e apostar numa carreira nos bancos.
Como jogador, Arteta foi, tal como Guardiola, um médio de fino trato da bola. Ambos foram formados no Barcelona, mas Mikel nunca se chegou a estrear na equipa principal dos catalães, jogando na Escócia, em França e em Inglaterra, onde se despediu dos relvados ao serviço do Arsenal, aonde chegou em 2011.
Como se percebe, os "gunners" desempenham um papel importante nesta história, mas não de uma forma linear. Os primeiros tempos de Arteta como treinador foram passados sob a asa de Guardiola, no papel de adjunto. Foi assim até 2019, quando o basco não resistiu ao chamamento do Arsenal, que viu nele o sucessor perfeito ao também espanhol Unai Emery.
Mesmo durante o período em que esteve longe dos "gunners", Arteta nunca tentou esconder por quem vibrava o seu coração. "Quando fazíamos golos, ele saltava e comemorava, exceto contra uma equipa, o Arsenal. E eu pensava 'este tipo gosta do Arsenal'", chegou a contar Pep Guardiola, recordando os tempos vividos entre ambos lado a lado no banco do City.
Dessa experiência, mais do que um estilo de jogar, Arteta reteve sobretudo outro tipo de atributos. "Aprendi que temos de ser implacáveis, consistentes e encaixar uma mentalidade vencedora no clube. Conservá-la é ainda mais difícil, por isso todos os dias são importantes", revelou o espanhol durante a apresentação como novo treinador do Arsenal, elogiando ainda o "ritmo de trabalho e a inspiração" que Guardiola emana.
"O papel que Pep teve no futebol nos últimos 20 anos é muito importante. Ele mudou o jogo tal como Johan Cruyff fez no passado. É uma inspiração pela sua maneira de pensar e de pensar o jogo, bem como pela paixão que tem pelo futebol", referiu Mikel Arteta.
O treinador catalão não o deixou sem reposta. "Não sei qual será o meu papel naquilo que ele conseguiu, mas a influência que ele teve em mim foi muito importante para me tornar um treinador melhor", confessou Guardiola.
Quatro anos depois, o discípulo procura superar o mestre numa corrida a dois pelo título inglês. Em fevereiro, Arteta admitiu que isso lhe causava uma "sensação estranha" e que preferia fazê-lo com "outro treinador". Ele que, logo após ter vencido o primeiro troféu como técnico do Arsenal, a Taça de Inglaterra em 2019, não esqueceu o tutor. "Tenho de agradecer ao Pep. Se sou treinador hoje é muito graças a ele também".
Chegou a hora do tira-teimas, e até aqui o discurso de ambos coincide. Nenhum dos dois aceita catalogá-lo como "decisivo", sobrando elogios ao rival e amigo. Se Guardiola acredita que "Mikel levou o Arsenal para um nível diferente", Arteta realça que "desde o início sabia que o City era a equipa a abater".
Uma coisa Mikel Arteta já conseguiu, fazer os adeptos do Arsenal sonhar com um título que foge há 19 anos. Para o conseguir pede-se-lhe o pináculo, superar o mestre que o guiou à emancipação, alguém que ainda não conseguiu bater desde que se mudou para Londres, tendo perdido os seis jogos realizados contra o Manchester City de Guardiola.
Tal como disse Arteta na antevisão ao jogo desta quarta-feira, "tem de ser perfeito porque é isso que é exigido neste momento da época". Também o adversário o exige, até porque o City está na corrida não só pela conquista da Liga inglesa, como também da Taça de Inglaterra e da Liga dos Campeões.
Na primeira volta, os azuis de Manchester venceram na casa do Arsenal por 3-1. Está tudo nas mãos dos craques, mas também na cabeça dos treinadores, que criaram duas equipas de autor.