A seleção portuguesa feminina garantiu o inédito apuramento para o Mundial, que se disputa em julho e agosto, na Austrália e na Nova Zelândia, numa equipa forjada de talento e recheada por jogadoras que levaram os estudos até ao fim e têm licenciaturas.
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No próximo verão, grande parte do país vai andar com os sonos trocados para acompanhar um momento histórico do futebol feminino nacional. Portugal está pela primeira vez na fase final de um Mundial, depois de ter derrotado os Camarões, por 2-1, no play-off intercontinental, disputado na Nova Zelândia, país que receberá a prova, juntamente com a Austrália, entre 20 de julho e 20 de agosto.
O golo que valeu o bilhete dourado à equipa das quinas foi apontado por Carole Costa, que além de ter feito carreira no futebol, em Portugal e na Alemanha, não descurou os estudos, tendo completado uma licenciatura em Educação Física e Desporto. A jogadora do Benfica não é caso único na seleção, havendo até internacionais com mestrados concluídos. A tardia emancipação do futebol feminino em Portugal e os baixos salários que ainda proporciona a quem escolhe calçar as chuteiras para correr atrás de uma bola são explicações viáveis para este fenómeno, mas não definitivas.
Afinal, o principal rosto da nova geração, Kika Nazareth, a primeira jogadora a ser agenciada pelo superagente Jorge Mendes, está, também ela, a completar a licenciatura em Gestão. "Isto é tudo um mar de rosas agora, mas amanhã pode ser outra coisa", vincou a jovem, de 20 anos, ao "Canal 11". Vanessa Marques e Dolores Silva, ambas do Braga, estudam, respetivamente, Ciências da Comunicação e Ciências do Desporto. Uma ideia intemporal, que continua a fazer escola entre as mulheres mais talentosas do nosso futebol.
Estágio do curso salvou a carreira de Rute Costa
Em 2014, uma lesão grave num dedo, sofrida num treino, quase fez Rute Costa deixar o futebol. O diagnóstico desaconselhava-a a praticar um desporto em que tivesse de utilizar as mãos, mas os estudos salvaram-lhe a carreira. O estágio da licenciatura em Ciências do Desporto, que viria a concluir, foi realizado como treinadora de guarda-redes num clube de futebol onde conheceu o técnico António Pontes, que a ajudou a voltar às balizas. Entretanto, Rute Costa, guarda-redes do Benfica, também terminou um mestrado em Ensino de Educação Física nos ensinos básico e secundário. "Se houver compromisso podemos dedicar-nos com sucesso a mais do que uma coisa. Tudo depende de quão sacrificados estamos dispostos a ser", explicou a internacional portuguesa, numa entrevista ao sítio "Mundo dos guarda-redes".
Carole Costa: figura do play-off vive para o desporto
É a figura do momento no futebol feminino português, "culpa" do penálti convertido em golo nos últimos instantes da final do play-off intercontinental de acesso à fase final do Mundial, que valeu a vitória de Portugal frente aos Camarões (2-1), e Carole Costa fez por merecer esse reconhecimento. Tem três títulos de campeã nacional no currículo, entre outros troféus conquistados no Sporting e no Benfica, e passou sete anos no futebol alemão. O sucesso que alcançou no plano desportivo não a fez descurar a vertente académica, tendo completado uma licenciatura em Educação Física e Desporto quando retornou a Portugal após a aventura por terras germânicas. Aos 32 anos, a defesa do Benfica já ultrapassou as 150 internacionalizações pela equipa das quinas, com 18 golos pelo meio.
Ana Rute: gestão faz parte do quotidiano
Aos 25 anos, Ana Rute é uma das figuras do Sporting de Braga, pelo qual conquistou a Taça da Liga na época passada. Quando se mudou para o Minho, há dois anos, proveniente do Condeixa, deixou "o emprego que tinha numa empresa de família para viver do futebol a tempo inteiro", contou ao sítio da FPF. Com uma licenciatura em Gestão no currículo, completou ainda um mestrado em Contabilidade e Finanças. Estreou-se na seleção principal portuguesa, há dois anos, num jogo frente a Israel, para o Grupo H de qualificação para o Campeonato do Mundo do próximo verão, tendo voltado a ser utilizada num jogo de preparação com a Costa Rica. Foi igualmente chamada à final do play-off intercontinental, na Nova Zelândia, mas acabou por não ser incluída na ficha de jogo pelo selecionador Francisco Neto.
Carolina Mendes: tirou Fisioterapia após conhecer o mundo
Na juventude, Carolina Mendes deixou-se levar pelos encantos do hóquei em patins, modalidade que praticou a nível federado e na qual até chegou a orientar treinos nos escalões de formação, mas seria o futebol a levar a melhor pelas perspetivas de crescimento que nele pressentiu. Natural de Estremoz, juntou-se ao Elétrico de Ponte de Sor com 15 anos, naquele que foi o pontapé de saída numa carreira de sucesso, não apenas nos relvados. O futebol levou-a a países como Espanha, Itália, Suécia e Islândia, experiências que documentou no blogue "As viagens da Carol". Tanta agitação não a impediu de se licenciar em Fisioterapia, curso que concluiu quando voltou a Portugal, em 2018, para jogar no Sporting. É desta jogadora do Braga o primeiro golo português em fases finais de um Europeu, em 2017.