Após o duelo entre a Juventus e o Real (2-1), outros dois mastodontes do futebol europeu entram em campo nesta quarta-feira, na primeira mão das meias-finais da Liga dos Campeões. Será o regresso do criador, Pep Guardiola, a casa da criatura, o Barcelona, mas na pele de treinador do adversário, o Bayern.
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De apanha-bolas e formando da academia la Masia a mestre de jogo no primeiro título europeu do Barça, em 1992, até ao famoso triplete (Champions, Liga e Taça do Rei, em 2009, já como treinador), as três décadas do glorioso passado de Pep Guardiola na Catalunha serão só um de diversos pontos de contacto, como o historial de rivalidade, que farão do desafio do Camp Nou um palco de reencontros entre gigantes com uma cultura de bola geneticamente próxima, a tal ponto que até há dois irmãos, Rafinha e Thiago Alcântara, em cada lado da barricada.
Estes rebentos de Iomar do Nascimento - aliás Mazinho, como ficou conhecido o médio brasileiro que espalhou magia pelos relvados espanhóis, com a camisola do Celta de Vigo, e que foi campeão do Mundo pelo Escrete, em 1994 - serão as faces mais visíveis da assimilação de processos de jogo transpostos por Guardiola para o Bayern. Thiago, que trocou a Catalunha pela Baviera, é o expoente do transplante do "tiki taka", que resultou numa certa barcelonização do campeão germânico. Mas custou a pegar. Pep chegou a irritar Munique. Sobretudo, um tal Franz Beckenbauer: "Se continuarmos assim, seremos como o Barça. Ninguém quererá ver-nos jogar, porque os nossos jogadores não farão mais nada que não seja trocar a bola até à linha de fundo e voltar para trás". O tempo desarmou o "Kaiser"...
Pep permanecerá, para sempre, como o treinador dos anos dourados do Barça (2008-2012), concluídos com a fama de ter modelado a melhor equipa da história do futebol. Para melhor se perceber o rasto do treinador pelo Camp Nou basta ver o saldo dessas quatro épocas: 14 títulos, entre os quais duas Ligas dos Campeões (2009 e 2011). Agora, no banco do rival, Guardiola tem a mesma responsabilidade e a mesma obrigação de resultados. Move-o a vontade de repetir o feito de Jupp Heynckes, que conduziu o Bayern a outro triplete histórico (Liga dos Campeões, Bundesliga, Taça da Alemanha, em 2013). Desta campanha de há dois anos resta, precisamente, aquele que foi o último confronto entre os dois gigantes: também nas meias-finais da Champions, o campeoníssimo alemão despachou os catalães com um total de 7-0 (4-0 em casa, 3-0 no Camp Nou), a caminho da final 100% germânica e ganha ao Dortmund (2-1).
Nessa correção de 2013, o treinador do Barça era Tito Vilanova, falecido em abril do ano passado. "Pep" tinha já abandonado a Catalunha e estava em licença sabática nos Estados Unidos, ele que até ponderou abandonar de vez o futebol. A saudade foi mais forte e o apelo do Bayern fê-lo voltar no verão desse mesmo ano. De então para cá, o mentor do "tiki taka" impôs no gigante da Baviera o mesmo rodízio de jogo com que afrontará o projeto original. Um confronto forçosamente assaltado por todo o tipo de emoções, tanto mais que no banco do Barça estará Luis Enrique, colega e amigo de um certo... Guardiola. Um dupla que fez furor no "dream team" de Johan Cruyff.
Se a pesada derrota de 2013 ainda lhe está cravada, o Barça também terá muito por onde se desforrar do rival germânico: em oito jogos (dois para a Taça UEFA, seis para a Liga dos Campeões), os catalães ganharam apenas um, empataram dois e perderam cinco. Uma entorse gráfica que Camp Nou quer ver corrigida já este ano, a galope do tridente MSN (Messi-Suarez-Neymar) e de outros craques, como Piqué, Xavi ou Iniesta, que desafiam o treinador que lhes deixou marca indelével no estilo de jogo, feito de passes e mais passes e de pressão alta, o mesmo "blaugrana style" que o Bayern aplicou, sem piedade, ao F.C. Porto (6-1).
E se Guardiola tem tanto lastro em Barcelona, afinal, nada que não esteja ao alcance de Luis Enrique... Também "Lucho" sonha com o triplete já nesta época. Lidera o campeonato, tem a taça do Rei para disputar com o Atlético de Bilbau e a Champions a três jogos de distância. Para Pep, resta outro desafio: apagar a penosa eliminação do ano passado, também nas meias-finais, às mãos do Real Madrid (0-1, no Bernabéu, e 0-4, no Allianz Arena).
Logo mais já se verá que tendência terá a eliminatória (segunda mão no dia 12). O Barça, quatro vezes campeão, comparece quase na máxima força (lesionado, o defesa Jérémy Mathieu é a única baixa) e o Bayern, pentacampeão europeu, continua sem as duas maiores estrelas do ataque, Arjen Robben e Frank Ribéry, também lesionados. O próprio Lewandowski vai a jogo com uma máscara de proteção.
Aconteça o que acontecer, uma coisa é certa: um FCB vai à final de Berlim, marcada para 6 de junho.