A saída do Real Madrid está consumada, após uma época de egos turbulentos. José Mourinho indica pistas da instabilidade, encontra razões para parte da contestação que sofreu. E mais, e mais...
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Feita por acordo e sem reclamar qualquer indemnização, a saída do Real Madrid é o fim de um sonho repleto de turbulência ou o começo de uma etapa menos condicionada por um ambiente marcado por pressões e interesses às vezes inexplicáveis?
O sonho era ganhar a liga espanhola - algo que me faltava no currículo -, e isso consegui, ainda por cima com um recorde histórico. Foi o fim de um ciclo e o início de outro. Simples.
Nesta época, no Real Madrid, há muitos observadores a considerarem ter perdido o controlo do balneário. O que correu mal? Sentiu-se apunhalado por algumas vedetas? Casillas, Ronaldo, Pepe e outros tiveram um comportamento que considere irrepreensível ou foram, claramente, casos perniciosos, demonstrativos de uma mentalidade de "primas-donas"?
Não quero falar do Real Madrid - ou, pelo menos, tentar não falar. Comigo será sempre a cultura da meritocracia. E, como treinador, nunca perderei a minha identidade, nem a minha dignidade. Quem não entende a meritocracia como um princípio fundamental será porque não foi educado assim. E a culpa da não aceitação não será sua, mas de quem o permitiu crescer dessa forma. Nunca perdi o controlo do balneário. Comigo, cara a cara, nunca houve faltas de respeito ou disciplinares. Divergências de conceitos, daquilo que é o profissionalismo, isso sim, houve, porque sou diferente e penso diferente de alguns.
No final da Taça do Rei [derrota com o Atlético de Madrid] considerou ser esta a sua pior época como treinador - apesar de ter ganho mais um troféu. Agora que tudo está clarificado, já tem explicações para o que aconteceu? O que não repetirá no próximo processo?
Considero ter sido a pior época para mim. Por culpa minha, que sempre ganhei muito. Para muitos, esta seria a melhor de sempre. Ganhar uma Supertaça, ser finalista da Taça do Rei, ser segundo classificado na Liga, ser semifinalista da Champions, para muitos seria a melhor época. Culpa minha, porque elevo as expectativas graças aos resultados que consigo.
Os três anos em Madrid foram marcados, indiscutivelmente, pelo seu afrontamento constante ao Barcelona. Hoje voltava a fazê--lo, especialmente quando uma parte do madridismo parece não ter percebido que por essa luta o José Mourinho foi capaz de quebrar o futebol hegemónico dos catalães?
Ao Barcelona ganhei a Champions que eles mais queriam, cuja final era jogada em Madrid [contra o Inter de Milão], e isso marca profundamente o vencedor e os perdedores. Depois, no Real Madrid, foram tantos os embates e as competições....Houve vitórias, derrotas e empates, títulos ganhos e perdidos. Tudo terminou com a vitória do Barcelona nesta última Liga, mas convém também lembrar que tudo terminou com vitórias do Real Madrid nos duelos diretos: vitórias na Supertaça, vitórias na Taça do Rei, vitórias na Liga. Gostei muito de me enfrentar aos melhores e por isso me meti nesta luta, em que o Real Madrid começou muito atrás.
Por que não subiu à tribuna no final da Taça do Rei? Comprou mais uma guerra com os que consideraram ter feito uma desconsideração a D. Juan Carlos...
Não subi porque fui expulso, sem nada ter feito, enquanto ao meu lado, a um colega, foi permitido tudo. Não quero qualificar. Acabou!
Repetidas vezes queixou--se da impossibilidade de ter vida privada em Espanha. Fartou-se? Um novo contrato tem apenas um desígnio profissional, ou procurará compatibilizá-lo com mais possibilidades de o deixarem em paz fora do futebol?
Vou para onde quero, para onde me querem, onde gosto de estar, de viver, de trabalhar.
Pois. Mourinho não o disse, mas está na cara. Vai voltar a falar inglês. Reincidindo em Stamford Bridge. No Chelsea e por quatro épocas.