Depois de ter vencido Rafael Nadal, Novak Djokovic e Sasha Zverev, em Madrid, o jovem tenista espanhol aponta baterias a Roland Garros. Uma história de encantar pontuada com belos exemplos de desportivismo, que a tornam ainda mais especial.
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A geração de Daniil Medvedev, Sasha Zverev ou Stefanos Tsitsipas, só para citar os que atingiram o pódio do ranking mundial, cresceu na sombra do "Big 3", composto pelos imortais Rafael Nadal, Novak Djokovic e Roger Federer, e contaria, certamente, com o impiedoso passar do tempo para tomar as rédeas do ténis mundial nos anos vindouros.
Só que o futuro chegou de rompante, com reações de espanto, estupefação e, sobretudo, de grande admiração por um menino, natural de Murcia, a quem muitos viam como um sério candidato a suceder a Rafael Nadal como referência do ténis espanhol e que pode vir a marcar uma era na modalidade.
Aos poucos, Carlos Alcaraz emergiu do anonimato como um aspirante a grandes conquistas, e elas não demoraram a surgir. Com apenas 19 anos, o espanhol já leva no currículo dois torneios Masters 1.000, em Miami e Madrid, ambos este ano, que o conduziram até ao sexto posto do ranking ATP.
Pelo meio, chegou à terceira ronda do Open da Austrália, onde foi derrotado por Matteo Berrettini, e às meias-finais em Indian Wells, caindo às mãos de Rafael Nadal. O "monstro" começa a crescer e não parece haver quem o consiga acompanhar.
Três anos antes, Alcaraz, então um menino de 16 anos, deixava o primeiro sinal de grandeza ao derrotar o compatriota Albert Ramos no torneio do Rio Janeiro, na sua primeira vitória no circuito profissional.
Em 2021, novamente no Rio, tornou-se no tenista mais jovem de sempre a conquistar um torneio ATP 500, já depois de ter ganho as "Next Generations ATP Finals", prova que reúne, anualmente, os maiores prodígios da modalidade. Na final, derrotou o norte-americano Sebastian Korda, que, no mês passado, passou por Portugal para disputar o Estoril Open.
No balanço à prova, o diretor do torneio português, João Zilhão, revelou que esteve perto de fechar o regresso de Carlos Alcaraz ao Estoril, agora com outro estatuto. Em 2021, o espanhol, então fora do top 100 mundial, ultrapassou a fase de qualificação e só caiu perante o croata Marin Cilic (2-1), na primeira ronda do quadro principal, num encontro marcado pelo desportivismo do jovem de Murcia.
No terceiro set, com o jogo empatado 2-2 e a um ponto de quebrar o serviço ao adversário, o espanhol confirmou que uma bola de Cilic, assinalada como fora pelo juiz de linha, tinha sido boa, "dispensando" até a avaliação do árbitro principal.
Nas bancadas, o seu treinador, Juan Carlos Ferrero, aplaudiu a atitude do seu pupilo. Para Alcaraz, não vale tudo para vencer. Este ano, nas meias-finais do torneio de Miami, frente ao polaco Hubert Hurkacz, pediu a repetição de um ponto, que tinha ganho, após uma má decisão do árbitro em prejuízo do adversário.
Alcaraz é mesmo assim. Um menino alegre, sem malícia, apostado em aproveitar ao máximo o que a vida lhe tem dado. Cresceu a idolatrar Roger Federer e, um dia, quer ser o que o suíço outrora foi: o número 1 do mundo.
O atual dono do tão desejado lugar, Novak Djokovic, não tem dúvidas de que Alcaraz "é o melhor tenista do mundo e um dos grandes favoritos para Roland Garros", o próximo Grand Slam do calendário ATP.
Seguro de si, Alcaraz diz-se "preparado para ganhar um Grand Slam este ano". O seu jogo fisicamente intenso e tecnicamente evoluído alimenta essa confiança. É um regalo vê-lo alternar "winners" entre "passing shots" furiosos e "amorties" e "volleys" tão preciosos que é difícil não ficar deslumbrado.
Depois de, em poucos dias, ter vencido Rafael Nadal, Novak Djokovic e Alexander Zverev, em Madrid, Alcaraz saltou o Masters de Roma para se focar em Roland Garros, que se inicia em 16 de maio.
"Estou pronto para cinco sets. Na minha equipa dizem-me que sou um touro", disse ao jornal 'Marca', ele que não dispensa uma boa sesta diária para recarregar energias. Os sonhos, esses, são fáceis de adivinhar.