Bicampeão europeu pela Espanha aceitou receber o salário mínimo para ajudar o clube do coração a regressar à La Liga, 24 anos depois.
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Por causa das lesões, a carreira de Santi Cazorla esteve por um fio e até a vida normal chegou a parecer ameaçada, depois de um diagnóstico médico colocar em causa a sua capacidade de andar normalmente caso não deixasse o futebol. Mas Cazorla tinha um sonho e, aos 38 anos, com o tornozelo já refeito, concretizou-o. Hoje, às 20 horas, com 40 anos, pode dar o final mais feliz a uma carreira que conta com títulos europeus pela Espanha, Taças e Supertaças de Inglaterra, para além de passagens fulgurantes pelo Villarreal, Málaga e Arsenal. Nada, porém, ao nível de devolver o clube do coração, onde tudo começou, à liga espanhola, de onde saiu, para não mais voltar, em 2001.
A essa despromoção seguiu-se outra e em dois anos o Oviedo passou da elite ao terceiro escalão. Pior do que isso, tinha a existência em risco devido a dívidas, incluindo salários em atraso. E assim, nesta incerteza, rastejou nos anos seguintes até a um ponto que parecia não ter retorno. Era 2012 e Cazorla chegou-se à frente, emprestando dinheiro e ajudando o clube a reunir os fundos indispensáveis para evitar o desaparecimento, ao impulsionar uma onda de apoio que se tornou global. O Oviedo resistiu e começou a reagir; recuperou as forças e nas últimas épocas vem reunindo argumentos para completar o renascimento.
Assim, no defeso de 2023, o clube tinha condições para pensar na contratação do filho pródigo, até porque o médio anunciara a intenção de regressar e, finalmente, concretizar o sonho de criança. Mais tarde, Agustín Lleida, diretor geral, recordou como no clube se puseram a fazer contas tendo em vista um plano para responder às eventuais exigências financeiras de Carzola, de saída do Catar e habituado a salários chorudos. “Mas ele respondeu: ‘Não, não quero nada. Vestir a camisola do Oviedo é suficiente’”.
A ideia era mesmo “jogar de graça”, mas, porque os regulamentos não o permitiam, aceitou o salário mínimo estipulado para a 2.ª Divisão (cerca de 90 mil euros anuais), cedendo todos direitos de imagem e com a promessa de que uma percentagem da venda de camisolas ajudaria a “cantera”. Desde então, Cazorla vestiu a camisola azul em 60 jogos e marcou quatro golos. O conto de fadas merece um final feliz, falta saber se o Mirandés, adversário na final do playoff de subida e que venceu a primeira mão por 1-0, está para aí virado.