A fama é tão má que só o ir a Scampia é o suficiente para uma aura mafiosa ficar a pairar sobre quem quer que seja. Que o diga Balotelli, que, em 2011, foi visto nesse aglomerado de cimento de Nápoles e logo teve de vir a terreno negar qualquer ligação com a Máfia. Mas Scampia não é só o lugar mais conotado com a droga e umbilicalmente ligado a Gomorra.
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Como escreveu o jornalista Pablo Ordaz, "a cidade italiana de pior reputação é Nápoles e o bairro de Nápoles com o estigma mais profundo chama-se Scampia e as ruas mais temidas de Scampia são Las Velas". E foi precisamente aí que, há cerca de 30 anos, Antonio Piccolo sentiu que era possível fazer a diferença através do futebol. Fundou a Scuola Calcio Arci Scampia e começou a dar a volta ao que o futuro tinha reservado para demasiadas crianças, que viam a droga e o crime para onde quer que olhassem.
Hoje, o clube, levado desde sempre por voluntários - treinadores e tudo o mais -, anima-se com dois campos de relva sintética, instalações simpáticas e equipamentos para os 400 adolescentes, rapazes e raparigas, que se afastam das más companhias aos pontapés à bola. Mas nem sempre foi assim. No início, treinava-se onde se podia, sempre em campos de terra, e cada um tinha de jogar com material que trazia de casa. Até que a missão evangelizadora começou a atrair seguidores. Fabio Cannavaro ou Ciro Ferrara, duas glórias italianas nascidas em Nápoles, doam dinheiro quase todos os anos e a federação italiana atribuiu-lhe o estatuto de "escola de futebol de elite". De certeza o maior título da história do Arci Scampia.
Não é que tenha tido muito sucesso na formação de jogadores. Afinal, desde 1986, só um, Armando Izzo, chegou à Série A, não sem antes ter sido suspeito de ligações à máfia. Mas ser Maradona, o ídolo maior da cidade, não é para muitos (talvez nem seja para ninguém). Por isso, apesar da ligação ao futebol, não se pode dizer que este clube que se agiganta na zona mais problemática da bota transalpina seja um viveiro de talentos para a bola. Mas pode gabar-se de ter contribuído para a formação de escritores ou professores universitários. Ou de outros que, simplesmente, podem dizer que cresceram em Scampia. Sem cadastro.