O jornalista Rui Miguel Tovar escreve sobre o antigo internacional sueco, uma figura marcante do futebol mundial.
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Zero Liga dos Campeões, zero Europeus, zero Mundiais. Nem sequer uma final entre as três competições. E então? Ibrahimovic é Zlatan e vice-versa, craque da cabeça aos pés, virtuoso da bola como poucos e um cromo sempre presente nas coleções do Europeu entre 2004 (pelo Ajax), 2008 (Inter) e 2012 (Milan). Seis golos, ao todo. Um deles é sublime, no Dragão, de calcanhar, todo no ar. Na baliza, Buffon - seu futuro companheiro na Juventus.
A vida corre-lhe (quase) sempre às mil maravilhas. A exceção é em Barcelona. “O Messi é diferente de todos, um craque à parte. Não o conheço assim tão bem, porque ele chegou a Barcelona aos 13 anos e já faz parte daquela cultura do menino bem-comportado. Eu não sou nada assim e a verdade é que estava a marcar mais golos que ele. Até que chegou o dia em que o Messi disse ao Guardiola ‘não quero jogar mais à direita, quero ir para o meio’. Eu é que era o 9. Mas o Guardiola não quer saber disso para nada e mudou de 4-3-3 para 4-5-1. Com essa mudança, fiquei amarrado e eu preciso de ser livre como um pássaro para brilhar. Fui falar com o Guardiola e ele assentiu: ‘okay, talvez tenha cometido um erro. Vou resolvê-lo.’ Fiquei feliz da vida e a verdade é que recomecei a marcar golos. Até que chegou o jogo em Londres, com o Arsenal, para a Liga dos Campeões. Os primeiros 20 minutos foram absolutamente brilhantes, marquei o 1-0 e o 2-0. Depois fui substituído. E o Arsenal empatou 2-2. Nessa semana, lesionei-me e fiquei de fora por três semanas. Nesse período, nunca o Guardiola me falou. Nem uma palavra de preocupação ou conforto. Zero. Frio como gelo. Uns breves meses depois, quando assinei pelo Milan, saí das oficinas do Barcelona e desci as escadas até à rua, onde estava um carro à minha espera para o aeroporto. Os jornalistas amontoavam-se lá em baixo e eu queria encontrar um termo para caracterizar o Guardiola. De repente, saiu-me o filósofo. Perguntaram-me o que tinha falhado e eu respondi: ‘Perguntem ao filósofo qual foi o problema”.