Viagem às raízes de David Carmo, o protagonista da maior transferência entre dois clubes portugueses.
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Perdeu-se um basquetebolista, ganhou-se um futebolista de eleição, protagonista da transferência mais cara de sempre entre clubes portugueses, quando a SAD portista decidiu pagar 20 milhões ao Braga para contratá-lo. David Carmo, central de 22 anos, é um dos nomes do presente e do futuro do F. C. Porto e da seleção, mas não teve um percurso de vida fácil.
Para lhe conhecermos o passado, é preciso voltar a Aveiro, onde nasceu, no início deste século. Filho de pais ligados ao básquete, experimentou a modalidade do lançamento ao cesto no Beira-Mar, mas a paixão pelo futebol falou mais alto. "Lembro-me de um miúdo tímido, mas com princípios e valores bem alicerçados. Teve uma infância em que a prática desportiva sempre esteve presente. Chegou ao futebol com raízes vincadas no basquetebol. Ainda hoje se vê que é um jovem evoluído no tempo de salto", conta, ao JN, Rui Mota, treinador de David no Centro de Formação e Treino do Benfica, em Estarreja, onde Carmo esteve dois anos, antes de uma experiência na Luz que não correu bem, por alegada falta de confiança dos dirigentes benfiquistas nas capacidades físicas que apresentava.
O regresso a Aveiro fê-lo voltar à estaca zero, com passagens pelo Anadia, de novo no Beira-Mar e Sanjoanense, de onde voltou a dar o salto, para Braga. "Era um rapaz humilde, imaturo e introvertido, com muitas dúvidas, mas trabalhador e bem-educado. Teve uma adaptação difícil. Já era muito alto, mas descoordenado. O primeiro ano em Braga não foi fácil, mas identificámos no David todo o potencial para a posição. O nosso dever era explorar as capacidades dele", lembra José Carvalho Araújo, único treinador do central na formação do clube bracarense.
"Foi o primeiro a dar-me as boas-vindas. Houve uma altura em que tínhamos um grupo para fazer trabalho extra no ginásio e estávamos sempre juntos. Falava muito dos jogos da NBA que via. Sempre foi forte nos duelos aéreos e agressivo nas bolas paradas", recorda Anthony Correia, companheiro de equipa de David Carmo no Braga B, de onde saltou para a equipa principal, pela mão de Ruben Amorim, em 2020. Curiosamente, a estreia foi no Dragão, com um erro que resultou num penálti para os portistas, mas também com uma grande vitória, por 2-1.
"Teve tempo e espaço para errar no Braga. Hoje está muito mais maduro e evoluiu no posicionamento. É um central moderno, muito forte na primeira fase de construção e no passe. Já jogava num grande clube, mas agora está no campeão nacional e vai jogar a Champions League. Está perfeitamente preparado", diz Carvalho Araújo.
"Clique decisivo" e uma "resposta brutal" à lesão
"Em Braga, David Carmo teve o clique decisivo quando foi chamado à seleção de sub-18. Voltou muito mais confiante no valor dele", revela José Carvalho Araújo, recordando o percurso de David Carmo.
Já na equipa principal, em 2021, o central teve uma lesão gravíssima num jogo contra o F. C. Porto, mas a resposta foi fantástica. "Fiquei arrepiado e não chorei por pouco quando vi esse lance, mas ele sempre me pareceu confiante. Tem uma mentalidade vencedora e não é pessoa de desistir à primeira dificuldade", afirma Anthony Correia, mais surpreendido pela "resposta brutal" que deu quando voltou a jogar do que com a transferência milionária para o Dragão.
Golo ao Rangers é cartão de visita
Com 1,96 metros, David Carmo é uma arma nas bolas paradas, mas na equipa principal do Braga só marcou um golo na época passada. Diante do Rangers, forçou o prolongamento nos "quartos" da Liga Europa, mas os minhotos acabaram eliminados.
Jackpot à medida da Sanjoanense
Fora do campo, o central é descrito por quem o conhece como uma pessoa tranquila. Representado pela ProEleven, de Carlos Gonçalves, deixou saudades na Sanjoanense, que vai receber quase um milhão de euros pela venda ao Braga dos 10% do passe que ainda detinha.