António André e Álvaro Magalhães estiveram em diferentes lados da barricada mas concordam na forma apaixonada como se vivem estes jogos, recordando algumas das muitas histórias no passado.
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Disputar um clássico entre o F. C. Porto e o Benfica é um dos privilégios que qualquer jogador gostaria de ter no currículo, um capítulo de memórias fascinantes e inesquecíveis. O JN comprovou-o numa conversa com António André e Álvaro Magalhães, duas figuras dos rivais que fazem parte do grupo dos que mais vezes tiveram a honra de participar nestes duelos eletrizantes.
André, carismático ex-médio dos dragões, está, aos 64 anos, a desfrutar da reforma depois de décadas de dedicação ao F. C. Porto, mas ainda se transporta, na imaginação, para os palcos dos clássicos com o Benfica. "Quando vejo a equipa perfilada para entrar em campo parece que estou a rever-me no que era. O entusiasmo, a garra e a responsabilidade de darmos tudo em campo era algo motivante", confessou.
Os duelos com Valdo
O ex-jogador partilhou que "o coração está mais fraco" e que prefere acompanhar os jogos em casa, mesmo tendo de se levantar do sofá para descomprimir: "Sofro, agora, muito mais por fora. Quando jogava, a semana antes do clássico era intensa, mas normalmente à sexta-feira tinha uma conversa com um padre amigo nas Caxinas e aliviava. Quando chegava o jogo só queria que começasse rápido, para dar o meu contributo e ganhar".
Dos duelos no meio-campo com Valdo, "um dos jogadores do Benfica mais difíceis de marcar", às "motivantes palestras de Artur Jorge ou Carlos Alberto Silva", André tem as recordações bem vividas dos clássicos, e frisa o significado anímico de uma vitória nestes jogos. "Os campeonatos podem perder-se nos jogos com os pequenos, mas ganham-se nestas partida com os grandes. Isso é que dá moral. Se falharmos, a frustração arrasta-se por um mês, até é difícil treinar a seguir".
Para o desafio de hoje, vaticina uma vitória dos azuis e brancos por 2-0, considerando que o "F. C. Porto está mais compacto". "Será um jogo intenso, com muitas oportunidades, mas o F. C. Porto terá mais sucesso, até porque tem um treinador que percebe a importância destas partidas", analisou.
Álvaro Magalhães
Vencer a Taça no Estádio das Antas
Álvaro Magalhães, antigo lateral esquerdo do Benfica, jogou 27 clássicos entre os dragões e as águias e alguns foram muito marcantes. Como o de 21 de agosto de 1983, em que as águias venceram o F. C. Porto, por 1-0, nas Antas. "Houve uma guerra sobre onde seria a final da Taça de Portugal, o Benfica não queria jogar nas Antas, mas o jogo acabou por se realizar lá. Eriksson concordou à última hora e nós, os jogadores, demos o máximo para ganhar o troféu no campo do adversário", lembrou, com orgulho. "Foi o F. C. Porto-Benfica que me deu mais prazer, vencemos com um golo do Carlos Manuel e fizemos uma enorme festa, em plena Antas".
A pressão dos adeptos
Os duelos entre os rivais eram quentes, na década de 1980. "Há 40 anos, o contexto era diferente. Os jogadores das equipas eram quase todos portugueses e com muitos anos nos clubes, além disso o ambiente era mais complicado. Os adeptos juntavam-se ao lado dos autocarros à entrada dos estádios, não era fácil", afirmou o ex-futebolista, de 61 anos, que jogou no Benfica durante nove épocas.
Hoje, a segurança é muito mais apertada, mas a paixão continua. "Neste momento, ambos os clubes têm alguma da mística do passado. Sérgio Conceição dá o ADN de portismo à equipa que, se calhar, faltou durante algumas épocas", sublinhou. Já o Benfica renasceu com Roger Schmidt. "A chegada cortou com vícios do passado e o treinador escolheu bem o plantel. Há liderança, todos são amigos".
Álvaro Magalhães, um dos históricos do Benfica, não só como jogador mas também como treinador adjunto, garante que não há favoritos. "É um jogo de 50/50. As equipas estão moralizadas, atravessam um bom momento e não se pode dizer que uma está pior".
Perfis
António André
64 anos
Ex-médio do F. C. Porto
35 clássicos
O ex-médio natural de Caxinas é o terceiro jogador dos dragões com mais duelos frente ao Benfica.
1985
Fez o primeiro clássico na Luz, em 1984/85, mas só na época seguinte viveu a emoção de jogar nas Antas.
Álvaro Magalhães
61 anos
Ex-lateral esquerdo do Benfica
27 clássicos
Nascido em Lamego, saltou da Académica para o Benfica, tornando-se um símbolo nos clássicos.
1981
Batismo na Luz
Disputou o primeiro clássico em dezembro, após assinar em agosto. O Benfica venceu 2-0, na Luz.