Em Braga é tempo de viragem. Clube e cidade envolvem-se cada vez mais. No centro histórico, na Rua do Souto, é indisfarçável a expectativa. Os adeptos sabem que o Benfica é favorito, mas não dão a corrida por terminada. O título poderá não ser visto por um canudo...
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Para quem joga no Totobola, o prazo para apostar termina hoje, às 14 horas. Amanhã é dia grande, com a decisão do título. No coração de Braga, na centenária Casa Campião, os apostadores andavam, ontem, numa roda-viva. O professor Xavier, com mais de 25 anos de filiação clubística, não hesitou: na Madeira, ganhará o seu Braga, na Luz, o Rio Ave derrotará o concorrente Benfica.
Na Rua do Souto, onde a Campião faz vizinhança com o café A Brasileira e a Casa das Bananas, entre outros afamados estabelecimentos, mora a esperança de ainda ganhar a corrida ao Benfica. Com o cachecol arsenalista sobre os ombros, Francisco Xavier apresenta-se como um homem de fé. Este professor do 1.º ciclo sente que "a cidade está viver intensamente estas últimas horas", antes da derradeira ronda. Salienta tratar-se de um "momento único" e diz-se pronto a festejar nas ruas, "assim que se comecem a ouvir as primeiras buzinadelas". No relvado, destaca o papel de Domingos Paciência. "De início, confesso que não tinha grande fé nele. Agora, temo que mais dia, menos dia, nos vá fugir...", comenta.
A festa chegou a África
Na Rua do Souto, ontem abençoada pelos pingos da chuva, quem por lá passava não era indiferente às conversas e às previsões acerca da carreira bracarense. Residente em Amares, Carlos Fernandes aproveitou o dia para passear, mas não dispensou o fardamento arsenalista: blusão e chapéu. Este adepto, de 66 anos, lembra-se bem da final da Taça de Portugal conquistada ante o Setúbal, por 1-0, com golo de Perrichon. Nessa altura, em 1966, Carlos estava a fazer tropa em Moçambique, mas o relato chegou através da Rádio Clube Português. Lá longe, em África, foi dia de arraial minhoto, amanhã quem sabe?... "O Benfica é o principal candidato. Nós fomos prejudicados por castigos e outras coisas mais. No entanto, subsiste a esperança de ainda lá chegarmos", acentua, orgulhoso dos recordes batidos esta época. Na sua opinião, quem brilhou foi o colectivo. Ainda assim, destacou uma unidade: o defesa-central Moisés "É um senhor! Até me admira como continua por cá!", exclamou, em dose dupla.
Entretanto, o movimento na Campião continua sem cessar. O centro fervilha de vida. Uns metros à frente da loja de apostas está um verdadeiro ex-líbris da cidade. A Casa das Bananas. É aqui que acontece o Natal Bananeiro e que congrega cerca de cinco mil pessoas, todos os anos, no dia 24 de Dezembro. E sabem a fazer o quê? Pois, o melhor é não puxar muito pela cabeça. Todos bebem um moscatel de Setúbal, a acompanhar uma banana da Madeira. Escusado será dizer que Jorge Rio, o gerente da casa, gostava de ter amanhã um Maio Bananeiro. Ou seja, ver o Braga campeão. A promessa de abrir as portas está feita. Jorge Rio foi guarda-redes do clube nas camadas jovens, por isso vive com redobrado júbilo a actual temporada. Diz que "a equipa de Domingos ganha na Choupana porque dá-se melhor fora do AXA" e conta com "a ajuda vila-condense na Luz".
Hoje, até às 14 horas, as apostas estão abertas. Amanhã é o dia D. Na Rua do Souto, com ou sem moscatel, é inconfessável o desejo de fazer a festa. O orgulho, esse, já ninguém o tira. Clube e cidade estão cada vez mais de mãos dadas.