O dia de São João de 1979 foi duplamente especial para a Invicta. Depois da habitual noite de folia, milhares de pessoas voltaram a invadir o coração da cidade para assistir aos metros finais da primeira edição do Grande Prémio Jornal de Notícias, prova de ciclismo que, 44 anos depois, se tornou numa das mais importantes do calendário velocipédico nacional.
Corpo do artigo
A competição, constituída por seis etapas, começou com um Porto-Coimbra que se revelou absolutamente decisivo. Francisco Miranda foi o mais rápido nesses 156 quilómetros e, depois, segurou a liderança na geral até receber a derradeira camisola amarela do então presidente da Câmara Municipal do Porto, Aureliano Veloso. O JN deu três páginas à cobertura do evento e o grande destaque, claro, ficou reservado para o vencedor. "Coroação testemunhada por milhares" foi o título escolhido por Fernando Mendes, a abrir um relato que espelhou bem o entusiasmo que o ciclismo sempre gerou em Portugal.
"O Grande Prémio Jornal de Notícias, qual cometa de cor e movimento, atravessou a cidade, melhor, envolveu-a primeiro, pela Circunvalação e Marginal, e penetrou-lhe depois o coração, ali na Avenida dos Aliados, que palpitava de ansiedade. E o encontro dos ciclistas e todo aquele mar de gente (eram milhares e milhares de pessoas ali concentradas) deu-se mesmo antes da hora marcada. António Fernandes, do F. C. Porto, foi o primeiro a chegar, mas os grandes louros da competição caíram (como sopa no mel) sobre os ombros do bombarrelense Francisco Miranda, curiosamente o primeiro homem a envergar, de facto, a camisola amarela Maconde, após o seu triunfo em Coimbra", resumia.
Curiosamente, Francisco Miranda tinha regressado há pouco tempo às estradas, uma vez que tinha interrompido a carreira depois de a Federação Portuguesa de Ciclismo ter acabado com o profissionalismo e quando questionado sobre o futuro na modalidade teve uma resposta clara. "Entro amanhã ao serviço na Casa Hipólito, a cujos diretores dedico esta vitória, pois sempre me têm facilitado a vida", afirmou, referindo-se ao facto de não viver do ciclismo.
O outro grande herói do último dia do primeiro GP JN foi António Fernandes, que venceu a etapa ao serviço do F. C. Porto-UBP, e ofereceu um sorriso ao irmão, Venceslau, pai da medalhada olímpica no triatlo Vanessa Fernandes. "Andava um pouco aborrecido por nem eu nem o meu irmão termos feito qualquer coisa digna de realce neste Grande Prémio. Falámos e decidimos que esta última etapa tinha de ser nossa", contou ao JN. Dito e feito.