Gilberto Martínez era para estar no Mundial com a mulher e os dois filhos, mas a morte negou-lhes o sonho de uma vida.
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Chamam-se Verónica, Diego e Mia e andam sempre com Gilberto Martínez. Não de mãos dadas, porque isso tornou-se impossível a partir do último 28 de abril, mas há casos em que nem a morte é suficiente para consumar a separação. Com o acidente de viação que provocou a morte da mãe e dos filhos desta família, também um sonho de uma vida se despedaçou, até que o pai, desfeito por dentro, pegou nos cacos e foi à Rússia tentar colá-los.
Nunca será a mesma coisa, claro. Quem, num abrir e fechar de olhos, perde o que mais lhe prende à vida, o máximo a que pode aspirar é a remendar a alma. E, quase sempre, nem isso é garantido. Portanto, Gilberto Martínez já tem um mérito: não se entregou ao luto nem chamou a morte também para ele. Por isso, o que estava para ser a concretização de um sonho imaginado há meses passou a uma luta a solo de um homem amargurado, mas determinado a levar avante o desejo da mulher e dos filhos falecidos.
Quando, naquele inesquecível 28 de abril, a mulher Verónica e os herdeiros Diego, de oito anos, e Mia, de seis, perderam a vida nas estradas da Florida, nos EUA, já a família Martínez tinha tudo planeado para a viagem de uma vida. A ideia era acompanhar a seleção mexicana no Mundial e pelo meio ainda assistir a um jogo da Argentina e a outro do Brasil, só para o filho ver de perto os ídolos Messi e Neymar. Não contavam com a morte, claro, mas enganaram-se também os que pensaram que a tragédia deitaria tudo por terra.
Houve psicólogos, o apoio familiar, a terapia psiquiátricas, conversas intermináveis, lágrimas que nunca mais acabavam, desabafos que ajudaram a espantar a tristeza e uma mensagem que acabaria por ser o grande empurrão rumo à reabilitação. O remetente era Guillermo Ochoa, o guarda-redes da seleção mexicana, e as palavras tocaram fundo: "O teu filho vai ser o anjo que me ajudará a voar".
Custou-lhe, mas Gilberto Martínez, golpeado eternamente quando os seus 41 anos ainda lhe dizem que tem muito para viver, acabou mesmo por atravessar meio mundo e anda pela Rússia a tentar tratar a dor insuportável. Verónica, Diego e Mia também lá andam, os nomes inscritos numa tarja gigante, bem colados ao corpo do marido e do pai. E até houve tempo para fazer a tal viagem de comboio, entre Moscovo e São Petersburgo, que foi pedido expresso da mulher...