Aos 20 anos, a jogadora portuguesa é a bandeira da modalidade em Portugal. Decide jogos e faz história no campo, mas também gera interesse, é idolatrada pelas mais jovens e dá o exemplo ao continuar os estudos.
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Vê-la com o número 10 nas costas é apenas o Mundo a funcionar como deve ser. Pelo menos aí. Aos 20 anos, Francisca Ramos Ribeiro Nazareth Sousa também já tem o estatuto de craque à mostra na camisola do Benfica. A maior craque do futebol feminino português, dizem, capaz levar adeptos aos estádios, de impulsionar a modalidade em Portugal e de já ser uma referência para raparigas e rapazes, benfiquistas ou não.
Na quarta-feira, em Aveiro, onde o Benfica conquistou a Supertaça, voltou a abrir o livro: como jogadora, ao marcar um golo “maradoniano”, como companheira, ao entregar o prémio de MVP que lhe foi atribuído à guarda-redes Lena Pauels, e como alguém que percebe (uma raridade) que o jogo (a indústria, como agora gostam de lhe chamar) só tem a ganhar com rivalidades saudáveis, ao distribuir autógrafos e poses fotográficas pelos adeptos do Sporting e ao interromper uma entrevista para ir aplaudir as adversárias.
Estreou-se pela equipa principal do Benfica aos 16 anos, pela seleção A aos 17. Aos 20, marcou num Campeonato do Mundo, juntando-se a Gonçalo Ramos e Cristiano Ronaldo no lote dos portugueses e portuguesas mais jovens a marcar num Mundial. Aos 50, possivelmente seja presidente do Benfica, o clube do coração, que acompanha sempre que pode, e que, por outro lado, tem muito a agradecer ao Clube Futebol Os Torpedos e ao Casa Pia, os primeiros a dar guarida à habilidade evidente que a Kika mostrou desde muito cedo com uma bola nos pés, numa altura em que juntar os amigos e jogar, simplesmente, ainda era possível, permitido e bem visto. “Era o futebol de rua. Acho a técnica e a tática importantes, mas eu gosto é da imprevisibilidade, de não haver regras: fazer um cabrito, cuecas…”, expôs, numa entrevista ao MaisFutebol, aquela que se tornou na primeira jogadora a ser agenciada por Jorge Mendes.
Não admira. A uma escala diferente, Kika Nazareth é o que o futebol feminino tem de mais parecido com Cristiano Ronaldo, a tal figura mais ou menos consensual – porque há sempre quem seja do contra –, que, por si só, tem um impacto brutal na modalidade e nas equipas que representa (dentro e fora do campo), aquela que quase todos assumem estar acima da média e que, por si só, é capaz de gerar interesse e receitas, influenciar as mais novas e arrastar multidões pelo país fora.
Com o tempo, o futebol foi-lhe tomando conta da vida – “os meus pais perceberam que podia ir para a frente”, disse no Canal 11 –, tornou-se a prioridade, mas não lhe afunilou o olhar. O curso de Gestão não está posto de lado e os estudos continuam a fazer parte do dia-a-dia. Obviamente, dentro do possível e do que o profissionalismo que, por fim, começa a fazer-se sentir no futebol feminino permite. “Isto é tudo um mar de rosas agora, mas amanhã pode ser outra coisa”, explica na mesma entrevista.
O hoje, contudo, dificilmente podia ser mais prometedor. A questão já só é até onde é que Kika Nazareth vai chegar.