O Presidente do Nepal, Ramchandra Paudel, dissolveu esta sexta-feira o Parlamento e anunciou eleições gerais para 5 de março de 2026, propostas pela nova primeira-ministra interina, Sushila Karki, disse a Presidência.
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"Por recomendação da primeira-ministra, o Parlamento foi dissolvido. A data das eleições foi fixada para 5 de março de 2026", declarou à agência de notícias francesa France-Presse (AFP) Kiran Pokharel, porta-voz da Presidência nepalesa.
Com a nomeação da primeira-ministra interina e o anúnico da data das eleições, os responsáveis nepaleses procuram alguma estabilidade política, na sequência dos violentos protestos populares por todo o país dos Himalaias, nos quais morreram mais de 30 e mais de mil ficaram feridas, desde segunda-feira.
O Governo interino deverá ficar em funções até ás novas eleições.
Na segunda-feira, os manifestantes juntaram-se em frente ao Parlamento para protestar contra uma lei que visava a proibição de 26 plataformas de redes sociais e, à medida que forçaram a entrada no edifício, foram recebidos por disparos da polícia, matando dezenas dos manifestantes.
Depois destas mortes, os protestos subiram de tom no dia seguinte, com os manifestantes a vandalizarem infraestruturas representativas do Estado, ateando fogo ao Parlamento, Supremo Tribunal, palácio presidencial e a residência oficial do primeiro-ministro.
Os ataques visaram esquadras, postos fronteiriços e prisões, o que levou à fuga de mais de 13.500 reclusos, tal como as residências privadas do ex-primeiro-ministro KP Sharma Oli, do ministro das Comunicações e do antigo primeiro-ministro Jhalanath Khanal, cuja mulher morreu no ataque.
O Hotel Hilton em Katmandu e os escritórios do Kantipur Media Group, o maior conglomerado de comunicação social do país, foram incendiados, deixando fora de serviço vários servidores.
Vários concessionários de automóveis foram incendiados, com a revolta a levar ao colapso das principais infraestruturas do país, isolando o Nepal do mundo exterior e paralisando completamente a vida quotidiana e a atividade económica.
O movimento, que nasceu nas redes sociais intitulado "Geração Z", além de se revoltar contra a proibição das plataformas digitais, também se materializou por considerar que o Governo nepalês é corrupto e ilegítimo.
As forças armadas acabaram por impor um recolher obrigatório e por restabelecer alguma calma no país, após a demissão de Sharma Oli, e de uma reunião do chefe do Estado-Maior do Exército, Ashok Raj Sigdel, com representantes dos partidos e dos manifestantes do "Geração Z".
Hoje foi atingido um consenso e nomeada uma nova primeira-ministra interina numa das semanas mais violentas no Nepal, desde as revoltas de 2008 durante a abolição da monarquia.