O Mundial 2018 pode ser um momento significativo para o papel da mulher no mundo desportivo. Mas aquilo que parece uma evolução pode, também, esconder indícios de que há muito a desenvolver no que ao sexismo diz respeito.
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Alemanha fora na fase de grupos. A Espanha cai aos pés da Rússia. A Argentina vai para casa mais cedo perante o desespero e gestos de Maradona que correram mundo e Alireza Beiranvand, guarda-redes do Irão, dá uma autêntica lição de vida. O Mundial 2018 só tem surpreendido, fazendo as delícias aos amantes do desporto rei. Mas as surpresas não se ficam apenas dentro dos estádios e das quatro linhas, onde os "heróis" vestem as cores do país e carregam a esperança de milhões de adeptos.
Fora dos relvados, esta competição bem que pode ser considerada um passo de gigante para o papel da mulher no futebol, habitualmente dominado por homens. Se é cada vez mais frequente ver o sexo feminino nos mais diversos eventos desportivos, não deixa de ser uma evolução, por exemplo, que duas jornalistas britânicas estejam no terreno, uma delas como comentadora. Ou Claudia Neumann, uma jornalista alemã, a narrar os jogos da competição através da rádio, levando as emoções aos quatro cantos do mundo. Claudia Neumann na televisão alemã ZDF, Vicki Sparks, na BBC, Hanna Marklund, na TV4 sueca, Lise Klavenesess ,na NRK norueguesa, e Aly Wagner, na norte-americana Fox, quebraram os tetos de vidro em relação à presença da mulher no mundo desportivo. Mas será que soa a uma vitória pela igualdade?
A presença feminina pode quebrar barreiras, mas sem antes pagar um preço. "Não quero mulheres como comentadoras de futebol! Isso está claro!", afirmou no Twitter um adepto contrário à decisão. "Vicki Sparks na BBC é horrível. A igualdade forçada irrita-me", podia-se ler em outro tweet. "Imagino que Neumann não é sequer capaz de fazer uma boa sopa de batata", afirma outro internauta. E o que dizer do ex-internacional inglês John Terry, que insinuou não conseguir ouvir um relato feito por uma mulher, afirmando "ter de desligar o som", pedindo desculpa mais tarde?
Mundo virtual à parte, também no terreno as jornalistas podem sofrer na pele o virar de página. Adeptos que tentam beijar à força as repórteres - como foi o caso da brasileira Júlia Guimarães, que acabou mesmo por repreender o adepto -, ou da espanhola Julieth Gonzalez, que foi agarrada por um adepto, que a tentou beijar à força.
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A Getty Images foi forçada a pedir desculpa depois de publicar uma galeria das "fãs mais badalados do Mundial", enquanto uma pesquisa no Google por "fãs de futebol feminino" mostra quase exclusivamente fotos de mulheres jovens e seminuas. Por outro lado, quase 40% dos espetadores das transmissões pela televisão do Mundial 2018 eram mulheres, aponta a FIFA.
Num momento que parece ser de viragem no que ao preconceito diz respeito, será este Mundial 2018 um capítulo histórico ou a competição onde o sexismo foi o verdadeiro campeão?