Xia Boyu tornou-se no primeiro escalador sem as duas pernas a chegar ao cume da maior montanha do Mundo pelo lado sul do Everest.
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Para quem superou duas amputações e ressurgiu de um linfoma que lhe roubou os membros inferiores, subir ao Everest não parece nada por aí além. Mas se essa escalada até ao ponto mais alto do Mundo for consumada com o peso de sete décadas de vida nas costas e sem as duas pernas, o caso já ganha toda uma nova dimensão. Ao contrário de outros, Xia Boyu ficou para contar a história e, finalmente, concretizou o sonho.
Ao todo, foram quatro, separadas no tempo por mais de 40 anos, as tentativas que este septuagenário chinês viu goradas pelas mais variadas razões. A primeira, em 1975, não podia ser mais traumática, mas nem por isso lhe serviu para ganhar juízo e desfazer-se da ideia que lhe veio à cabeça ainda adolescente. Nessa vez, ficou preso por causa de um nevão e o gelo da montanha deixou-lhe os pés em tal estado que não restou alternativa que não fosse a amputação. Esse, no entanto, foi só o primeiro percalço.
Vinte anos depois, o senhor Boyu deu luta a um linfoma, mas a doença levou a melhor e com ela foram também as duas pernas. O desejo de ir até aos píncaros da Terra, esse, ficou. E então, em 2014, já habituado às próteses que o mantinham em pé, retomou os trabalhos iniciados quase quatro décadas antes. Só que a natureza também começou por não ser muito amiga. Primeiro foi uma avalancha, depois foi um terramoto no Nepal e por fim foi o mau tempo a negar-lhe a concretização do plano.
Mas ainda houve mais. Há uns meses, com o objetivo de reduzir o risco de acidentes na montanha, o governo nepalês lembrou-se de proibir as pessoas sem as duas pernas e outras deficiências tão castradoras de força física de escalar o Everest. Parecia tudo perdido. Só que a norma acabaria revogada, graças à pressão das associações defensoras de pessoas deficientes e Xia Boyu não se fez rogado.
Por fim, 43 anos depois da primeira tentativa, o chinês tornou-se no primeiro escalador sem nenhuma das duas pernas a subir os 8848 metros que dão músculo a este gigante montanhoso e a chegar ao topo do Everest pelo lado Sul. Fê-lo com o auxílio de três habitantes locais, precavidos para qualquer eventualidade, e com o corpo e a alma cicatrizados de demasiados golpes. Mas conseguiu.