Contestados e criticados desde que assumiram o controlo do clube, os americanos preparam saída pela porta pequena.
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Mais vale tarde do que nunca, pensará uma larga maioria dos adeptos do Manchester United. Quase 20 anos depois, a família Glazers está pronta para desmobilizar e deixar o clube do qual começou a tomar conta em 2003, era ele ainda uma das maiores potências futebolísticas do Mundo. Agora, está disposta a entregá-lo, mas amorfo, desportivamente em crise, apesar do investimento bilionário em jogadores e treinadores, e, a fazer fé nas palavras demolidoras de Cristiano Ronaldo, estragado e antiquado. Para trás, ficará também uma convivência que nunca foi, sequer, cordial com os adeptos, que, ao longo do tempo, manifestaram de diversas formas o descontentamento pelo rumo que o clube tomou.
Logo em 2005, muitos deles renegaram o clube e uniram-se para criar algo que mantivesse as origens, com os adeptos a terem peso nas decisões em vez de serem vistos como meros clientes, sem o mínimo conhecimento e ainda menos controlo do que se passava. Nascia o FC United of Manchester. A maioria, no entanto, ficou em Old Trafford, talvez porque nessa altura os "red devils" ainda davam luta pelo primeiro lugar e enriqueciam o palmarés. Até 2013, Sir Alex Ferguson segurou as pontas e os protestos, que os houve (como aquele em que milhares de adeptos viram um jogo de cachecol verde e amarelo - as cores originais do clube), não tiveram impacto por aí além. Mas foram moendo.
Com a saída do grande treinador escocês, o Manchester United nunca mais foi o mesmo e os seis irmãos Glazer, principalmente Joel e Avram, ficam ligados a um dos períodos mais negros da história do clube, ao mesmo tempo que viam a insultuosa fortuna crescer e crescer. Desde aí, o United ganhou apenas quatro troféus e nenhum foi o título da Premier League, ficou fora da Liga dos Campeões em mais do que uma ocasião e acabou vários campeonato fora do top-4. O desnorte (desinteresse e desleixo para muitos) era evidente e a contestação só aumentou, ao ponto de um jogo com o Liverpool, em maio de 2021, ter que ser suspenso e adiado devido a protestos ao som de cânticos "Glazers out (Glazers fora)". Figuras míticas do clube, como Gary Neville e Roy Keane, também não esconderam o descontentamento. Cristiano Ronaldo, numa entrevista arrasadora, confirmou a inaptidão dos americanos.
Coincidência, ou não, pode muito bem suceder que o último ato de gestão dos Glazer seja a rescisão do contrato de CR7. Mais um feito pela negativa. O outro multimilionário que se seguir à frente do Manchester United tem uma casa imensa para arrumar.