Seleção faz história na Taça Asiática enquanto o país é devastado por bombas que matam familiares dos jogadores.
Corpo do artigo
Pouco antes de entrar em campo para o jogo de estreia da Palestina, frente ao Irão, Mahmoud Wadi deu um testemunho arrasador: “O meu primo foi morto há 30 minutos. Contaram-me... É difícil dizer como me sinto, mas agora estamos focados na Taça da Ásia, porque precisamos que esta competição faça algo pelas nossas famílias e pelo povo da Palestina, para os fazer felizes durante a guerra”, contou a Al Jazeera. O mote, mesmo que transmitido com uma frieza – ou estupefação, talvez – também ela de arrepiar, estava dado. A seguir, Wadi entrou em campo com mais uns quantos palestinianos cujas existências estão mais ou menos devastadas pelos repetidos bombardeamentos e ataques que, há mais de 100 dias, condenam a Faixa de Gaza à extinção, iniciando aí uma participação que viria a tornar-se histórica.
À derrota no primeiro jogo (4-1), seguiu-se um empate (frente aos Emirados Árabes Unidos, de Paulo Bento) e, por fim, a primeira vitória de sempre da Palestina na Taça da Ásia, a decorrer no Catar. Esse triunfo sobre Hong Kong (3-0), no jogo decisivo, encheu-se, portanto, de todo o simbolismo, ainda por cima porque também proporcionou a primeira presença de sempre desta seleção nos oitavos de final da competição. A cada golo seguiam-se segundos de alegria, que logo se desvanecia, com os festejos compreensivelmente contidos e a relembrarem os tempos sombrios e o sofrimentos que o país e a sua população suportam. Jogadores ajoelhados, com os braços cruzados acima da cabeça, quais prisioneiros, e quase constrangidos por celebrarem algo que parece tão pouco quando comparado com o que se passa na Faixa de Gaza. Não é insignificante, porém: “Conseguimos colocar um sorriso na cara de quem nos acompanha, dentro ou fora da Palestina. As milhares de pessoas aqui e os milhões de palestinianos em todo o Mundo são a nossa principal motivação”, salientou o capitão Musab Al-Battat.