Os 21 jogadores da União desportiva de Rio Maior suspenderam este domingo a greve de fome e vão rescindir os vínculos por terem seis meses de ordenados em atraso.
Corpo do artigo
A Comissão Administrativa do clube garantiu, entretanto, a comparência da equipa no jogo frente ao Sintrense.
Depois de conferenciar durante duas horas com o plantel do clube, o presidente do Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), Joaquim Evangelista, disse ter conseguido "assegurar três salários aos jogadores", através do Fundo de Garantia Salarial do SJPF, correspondentes a cerca de 30 mil euros.
"Acho que não podemos continuar a permitir que os jogadores ponham em causa a sua saúde e a sua dignidade pessoal, porque esta luta não é só deles, é de todos os jogadores e de todos aqueles que querem um futebol de verdade e de dignidade", disse o sindicalista.
Elogiando a dignidade do plantel riomaiorense, que ao fim de cerca de 25 horas em greve de fome suspendeu o protesto junto ao Estádio Municipal, Joaquim Evangelista manifestou orgulho pelos jogadores.
"Acho que é um dia triste para o futebol português, é um dia triste para a cidade de Rio Maior, aliás é indigno que a Câmara, a direcção do clube e a associação de futebol não tenham tido a dignidade de vir solidarizar-se com estes jogadores", sustentou o presidente do SJPF.
O capitão da União Desportiva de Rio Maior, Bruno Militão, justificou "levantar o acampamento" com o apelo de Joaquim Evangelista, o apoio do SJPF e ausência de "ajudas" de outras entidades.
"Mais uma vez sentimos que vamos dar o braço a torcer, não era esta a nossa intenção. Custou-nos muito, mas temos de ser racionais", admitiu Bruno Militão.
O SJPF irá "proceder judicialmente contra estes dirigentes", disse.
No entanto, Joaquim Evangelista reiterou a posição dos futebolistas: "Os jogadores não vão recuar, porque a sua relação com o clube terminou. Estes dirigentes não merecem que, da parte dos jogadores, continue a haver disponibilidade para os defender e estar ao seu lado, portanto, não vão comparecer ao jogo".
"Espero que este sinal vá germinar no futebol português e desejar que os jogadores não permitam, na próxima época, isto volte a acontecer", frisou o sindicalista.
O presidente do SJPF, que enalteceu o apoio de "algumas entidades" em contraponto com outras "que se limitaram a palavras de circunstância", considerou "atitude indigna" a eventual utilização de jogadores juniores, no jogo da oitava e antepenúltima jornada da fase de subida da Série E da III Divisão.
Caso faltasse ao jogo frente ao Sintrense, o clube riomaiorense arriscava a descida e suspensão por duas épocas das competições nacionais.
Eduardo Rosa, da Comissão Administrativa do clube, garantiu a presença do clube neste encontro, sem precisar se vão ser utilizados jogadores juniores.
"Nós vamos comparecer. Estamos à espera que haja o bom senso de alguns elementos. Não sei se serão iniciados, juvenis ou juniores, aguardamos pelas 16.00 e veremos o que vai acontecer", sublinhou o dirigente do clube, admitindo que alguns jogadores do plantel "reconsiderem durante a noite sobre o que andaram a fazer".
Em comunicado, a Comissão Administrativa da UD Rio Maior classifica de "pseudo-greve" o protesto dos jogadores, reiterando ter sido mandatada para um período de 90 dias para "identificar e procurar a resolução dos problemas" do clube.
No mesmo comunicado, os dirigentes consideram "legítimo" o "acto dos jogadores", reiterando a "surpresa" com o mesmo e apelando à presença de "associados e amigos" do clube, na assembleia geral do próximo dia 28 de Maio.
Após terem sido disputados sete jogos na fase de subida, a UD Rio Maior ocupa a terceira posição, com 32 pontos, menos 12 do que o líder Camacha e menos oito que o Igreja Nova, segundo classificado.
No início de Março, os jogadores fizeram um pré-aviso de greve, que entretanto suspenderam antes do jogo com o Camacha, evitando assim a desclassificação do clube, por falta de comparência numa das últimas três jornadas do campeonato.
Antes do pré-aviso de greve, a 19 de Fevereiro, o SJPF accionou, pela primeira vez, o fundo de garantia salarial para apoiar os jogadores, disponibilizando 350 euros a cada um.
A actual Comissão Administrativa do clube, eleita a 26 de Março, responsabiliza o anterior presidente, Albano Mota, de "gestão danosa".
Apesar de já ter sido atribuída a verba referente ao contrato-programa com a Câmara Municipal de Rio Maior, de cerca de 25 mil euros, os jogadores apenas receberam por duas vezes vencimentos referentes a meio mês.