Riba d'Ave contornou orçamento baixo com aposta nos jovens. Estratégia garantiu a permanência e o apuramento europeu
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Na vila de Riba d'Ave, concelho de Famalicão, os festejos continuam bem vivos na memória. A equipa sénior garantiu, via campeonato nacional, e pela primeira vez em 47 anos de existência, o direito de participar numa competição europeia, numa temporada abrilhantada pela também histórica permanência na 1.ª Divisão, o principal objetivo da época, e pela terceira presença, segunda consecutiva, na final four da Taça de Portugal.
São sucessos desportivos que deixam o presidente Narciso Silva embevecido, mas que não irão desviar o clube das suas responsabilidades. "São resultados motivadores, pois queremos estar nos patamares principais. Mas sem nunca descurar a sustentabilidade financeira e a potencialização de jovens jogadores. O nosso projeto, até à data, é único. É um projeto que potencializa jovens promessas e que as transforma em verdadeiras afirmações", disse o dirigente, de 52 anos.
"Com um orçamento de 90 mil euros, a permanência já é uma proeza enorme. Com o que temos e fazemos, somos uns autênticos campeões. Por isso, um dos nossos lemas, e que está bem visível no pavilhão, é e será: "Riba d"Ave Hóquei Clube, Escola de Campeões", regozijou-se Narciso Silva.
O rigor financeiro é ponto de honra no planeamento de cada época e, por essa razão, a Direção ainda não decidiu se o clube se irá estrear nas provas internacionais. "Temos de ver as implicações desportivas e financeiras de uma possível participação. Temos de ser ponderados. Ainda não há verbas disponíveis para uma eventual presença. Caso avancemos, teremos de equacionar uma receita extraordinária", disse o presidente, já com três décadas de vida dedicada ao clube.
Agradecimento aos adeptos
Narciso Silva aproveitou para enaltecer e agradecer o apoio da Câmara de Famalicão. "O Riba d"Ave tem de estar grato à autarquia. Sem o seu apoio, seria praticamente impossível a sustentabilidade financeira do clube", adiantou. Numa vila que vive intensamente a modalidade, elogiou os adeptos e já tem ideias para melhorar as condições do pavilhão das Tílias. "Temos sempre o pavilhão cheio. A vila ama e vibra com o hóquei e estamos agradecidos com o calor que sentimos nos jogos em casa e fora. No futuro, queremos construir uma bancada e remodelar os balneários", assumiu.
Aproveitar a rampa perfeita para ganhar experiência
Com um currículo brilhante pelas seleções mais jovens de Portugal, o defesa/médio Diogo Seixas é um dos ativos que permanecerão ao serviço do Riba d"Ave em 2019/20. O jovem internacional, de 22 anos, campeão da Europa de sub-20 em 2014 e bicampeão mundial de sub-20 (2013 e 2015), foi claro em justificar a continuidade no clube. "A primeira divisão é muito competitiva e não é mentira quando dizem que a melhor liga do mundo está em Portugal. O Riba d"Ave aposta nos jovens e isso permite-nos ganhar experiência. Qualidade já temos", esclareceu. "Estou no projeto certo e com as pessoas certas. Foi fácil dizer sim ao convite endereçado", acrescentou Diogo Seixas, que elogiou também o apoio dos adeptos: "O ambiente é fantástico, o que é muito motivador para quem joga. Sem público não há espetáculo". Ainda jovem, Diogo Seixas tem sonhos para cumprir, ciente que o panorama atual está complicado. "Quero chegar ao topo da modalidade, mas a vinda de estrangeiros está a complicar. Se chegam para acrescentar qualidade, tudo bem. Mas nem sempre isso acontece. Há muitos jovens de igual valor ou superior", lamentou.
O treinador que ainda faz uma perninha dentro do rinque
Treinador e jogador da equipa sénior, Hugo Azevedo, de 35 anos, não escondeu a felicidade pelas proezas alcançadas na temporada 2018/2019. "O objetivo era exclusivamente a permanência, mas o trabalho e o empenho permitiram um apuramento europeu e a presença, pela terceira vez no historial do clube, numa final four da Taça de Portugal. Foram resultados gratificantes para o grupo, para a direção e para os sócios e adeptos", afirmou Hugo Azevedo, ele que, ao serviço do Valongo, foi campeão nacional em 2013/2014 e conquistou a Supertaça António Livramento em 2014/2015. Os objetivos coletivos e pessoais para o futuro já estão definidos. "Queremos continuar a dar passos sustentados rumo ao patamar que o clube merece: continuar entre os melhores. A nível pessoal, como tive uma carreira positiva como jogador, vou trabalhar para manter esse estatuto na condição de treinador. Não quero queimar etapas. Já passei pela formação e já tirei o curso superior direcionado para esta área. O objetivo é ter as ferramentas necessárias para estar melhor preparado como treinador", salientou Hugo Azevedo.
Massagista das mãos de ouro já faz parte da "mobília" do clube
A um ano de completar 70 primaveras, o massagista Fernando Machado é figura mediática no Riba d"Ave Hóquei Clube. Antigo ciclista do F. C. Porto e da Coelima - correu duas vezes a Volta a Portugal pelo clube vimaranense -, e com passagens por vários clubes de futebol como massagista, as suas mãos de ouro ganharam fama e despertaram o interesse do emblema famalicense. A aventura começou a partir de uma amizade, mas o casamento já dura há 28 anos. "Vim para ajudar um amigo durante alguns meses, mas acabei por ficar e já estou cá há quase trinta anos", recordou Fernando Machado, justificando as razões da longa estadia: "Há muita camaradagem. Sou o velhinho do clube e todos me respeitam com elevação. Sou o pai deles todos". Um respeito que se estende por todo o país. "Fico contente por ter conquistado o carinho de todos os clubes e até dos próprios árbitros. Fico grato com toda a simpatia e isso pesa sempre nas minhas decisões. Mas quando penso em abandonar, o presidente é claro: nem pense senhor Machado. É só mais um aninho. É uma brincadeira que me mantém cá. Só quando morrer deixarei isto", vincou.