Roger Schmidt, aposta de Rui Costa para trazer as águias de volta à glória, foi o general que comandou a revolução encarnada, numa época de 2022/23 que trouxe um vendaval de mudanças e uma rutura com o passado recente.
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O treinador alemão, nascido na cidade de Kierspe, em 1967, herdou um grupo de trabalho fragilizado pela instabilidade da época anterior, na qual Jorge Jesus, despedido a meio da temporada, e Nélson Veríssimo, que orientou a equipa na restante campanha, não conseguiu atingir o título, conquistado pelo F. C. Porto, de Sérgio Conceição, com vitória por 1-0, no Estádio da Luz.
Em conjunto com a direção encarnada, o técnico, de 56 anos, operou uma verdadeira renovação do plantel. Vertonghen, Weigl, Darwin, Pizzi, Taarabt, Everton Cebolinha e Seferovic foram alguns dos jogadores que deixaram a Luz no verão, apostando, posteriormente, em Bah, Aursnes, David Neres, Enzo Fernández, Ristic, Musa e Draxler, no mesmo defeso.
O clima de incerteza causado pela aposta no primeiro treinador estrangeiro a orientar o Benfica desde a saída do espanhol Quique Flores, em 2009, dissipou-se rapidamente nos primeiros jogos sob o comando do antigo técnico do PSV Eindhoven. Nas escassas semanas de pré-temporada, o alemão conseguiu juntar peças antigas e novas e montar um conjunto verdadeiramente coeso. A versão renovada das águias, que se apresentou com um 4x2x3x1 como esquema tático de eleição, destacava-se por ser mais forte fisicamente, mais intensa nas fases de pressão e transição defensiva, e mais organizada, sem perder o atrevimento na hora de partir para o ataque, mostrando-se confortável com a bola, mas também sem ela.
Quando a equipa respira confiança, as individualidades sobressaem e, sob a orientação de Schmidt, vários jogadores atingiram o pico da performance. Vlachodimos, Grimaldo, João Mário, Rafa e Gonçalo Ramos subiram de rendimento, relativamente às épocas anteriores. Florentino Luís e Chiquinho, emprestados a outros clubes na temporada passada, agarraram a segunda oportunidade concedida pelo treinador, enquanto António Silva e João Neves, provenientes das camadas jovens, surpreenderam os adeptos mais otimistas, tal a maturidade que demonstraram quando entraram na equipa encarnada.
A paragem do campeonato para a realização do Mundial 2022, juntamente com a saída de Enzo Fernández para o Chelsea, no mercado de inverno, travou o ímpeto dos encarnados, que sofreram, no final de dezembro, a primeira derrota da época, por 3-0, frente ao Braga. Na segunda metade da temporada, o conjunto de Schmidt não se mostrou tão dominante como na primeira volta, mas conseguiu, até abril, manter a distância de 10 pontos para o F. C. Porto. Uma derrota, por 2-1, na Luz, na 27.ª jornada, seguida de um desaire em Chaves (1-0), uma semana depois, fez a vantagem encurtar para quatro pontos, mas, no "sprint" final, Roger Schmidt conseguiu manter as tropas concentradas na missão que tinham em mãos e trouxe de volta o troféu da Liga Portuguesa ao Estádio da Luz, quatro anos depois do anterior título. Indiscutivelmente, Schmidt acaba a época em estado de graça.