Na presidência do Paços de Ferreira desde 2014, Paulo Meneses ainda não esqueceu a descida do ano passado - "fez-me sofrer muito". Revela que, "completamente esgotado", tirou umas férias sabáticas depois de preparar esta temporada e que o regresso à Liga só "foi reparar" o desfecho da anterior. Com eleições à porta, a 9 de maio, ainda faltam limar arestas para ser candidato.
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Entre os melhores momentos à frente do clube, em que lugar fica esta subida?
Em primeiro. Obviamente que o melhor que aconteceu foi nunca ter descido de divisão [até à época passada]. No primeiro ano, ficámos no oitavo lugar e essa foi a melhor classificação, mas o momento mais saboroso foi este, depois de toda aquela frustração.
A felicidade desta subida supera a tristeza da descida?
A felicidade desta subida só ameniza o sofrimento da descida. Não tem comparação. Aquilo que se fez foi reparar. A descida fez-me sofrer muito mais.
Não subir logo no ano seguinte teria consequências negativas?
Quando descemos, o mais fácil era desistir, mas percebemos, nós, a Direção, que teríamos que continuar porque tínhamos noção da responsabilidade. O Paços não podia ter entrado num período eleitoral...
Isso foi ponderado?
Não nego que alguns elementos da Direção ponderaram, naturalmente, render-se, mas isso foi uma reação mais emotiva do que racional. Percebi que era o momento de assumir as minhas responsabilidades enquanto presidente e tentei levar toda a gente atrás e só fazer o luto depois. E fi-lo: depois da época de transferências, em agosto, tirei umas férias sabáticas depois de ter percebido que estava completamente esgotado. Recordo-me que dois dias depois de termos descido eu tinha toda a máquina a funcionar e quatro dias depois tínhamos o treinador contratado e em Paços de Ferreira já não se falava noutra coisa que não fosse a subida.
Diz-se que se aprende mais com as derrotas. O que é que o Paulo Meneses e o Paços aprenderam?
Eu diria que as derrotas podem ensinar e as vitórias também. Aprende-se é com os erros.
E onde é que errou na época passada?
Em muitas coisas. Por exemplo, na escolha de jogadores. Acho que errámos em algumas opções estratégicas e, se calhar, errámos em não termos resistido mais a algumas mudanças de treinadores.
Cerca de um ano depois, o Paços volta a estar na mó de cima só que ainda não sabe se vai continuar a contar com o atual presidente e com o atual treinador.
Tal e qual. Está decidido que as eleições serão a 9 de maio e que a entrega de lista é até dia 3 de maio. Muita gente é potencialmente candidata e alguns poderão ser efetivamente candidatos, entre os quais o atual presidente.
Porque é que ainda não decidiu?
Porque não decidi mesmo [risos]. Não se trata de uma operação de charme nem de um tabu. A minha decisão será tornada pública muito em breve. Tenho que ter as condições e as garantias mínimas para poder fazer um bom trabalho e garantir isso aos sócios, com todos os riscos que isso comporta. Neste momento, isso não está perfeitamente definido. A equipa [diretiva] não é o presidente, é um conjunto de pessoas, e ainda há definições a fazer.
Se o Paços não subisse de divisão, recandidatava-se?
Teria um dilema enorme. Mas o que mais naturalmente podia acontecer era eu achar que falhei de uma forma imperdoável... Nunca me permitiria se tivesse desistido no ano passado, mas acho que, se não subíssemos de divisão, teria que reconhecer a minha incapacidade este ano e naturalmente sairia.
As ambições do Paulo Meneses no futebol esgotam-se no Paços de Ferreira?
A presidência do Paços foi algo que me aconteceu de forma inesperada e indesejada, mas agora tenho aquele bichinho que me faz pensar no clube mesmo quando não devo e, portanto, esgotam-se, naturalmente, no Paços de Ferreira. Podia almejar ser presidente noutro clube mas é impossível e nem tenho o anseio de ser presidente de outra coisa nenhuma.
Já assumiu o desejo de manter Vítor Oliveira. O que é que está a travar a renovação?
Acho mesmo que seria desejável que o Paços de Ferreira continuasse com o Vítor Oliveira. Aliás, é, porventura, o único treinador que eu assumiria, enquanto presidente em final de mandato, contratar para a época seguinte, independentemente de eu continuar ou não.
O que é que ele tem de especial?
Tem tudo. O que mais me surpreendeu nele foi a forma simples como ele me ensinou a ver o futebol. Consegui perceber que o futebol não é tão complicado quanto isso e ele tem razão: o futebol é demasiado simples, nós é que o complicamos.
Está a ser mais difícil renovar com o Vítor Oliveira do que foi contratá-lo?
Quando eu tive a conversa para contratá-lo, a resposta dele foi exatamente a mesma que me deu agora: "Daqui a uns dias, dou-lhe a resposta". E agora foi igual.
Tem algum prazo?
O que ele entender. O Vítor Oliveira é demasiado responsável para criar qualquer problema ao Paços de Ferreira. Ele sabe quais são os nossos timings e não tenho dúvida de que, no momento certo, vai dizer sim ou não.
O clube está precavido para uma resposta negativa?
Há perfis de treinadores que eu acho que se enquadrariam no Paços de Ferreira. Mas não falei, nem podia falar com ninguém. Se eu já tivesse feito um contacto, direto ou indireto, com qualquer outro treinador, era o primeiro passo para perder a esperança em manter o Vítor Oliveira.
Na época passada, o Paços perdeu o diretor desportivo Marco Abreu e não preencheu esse lugar. É para continuar assim?
Não, não. Assumidamente, o Paços de Ferreira precisa de um diretor desportivo, mas não um que tenha só as funções de diretor desportivo. O Paços precisa de alguém que ajude a organizar o clube, e isso é ser exigente com ele próprio e ser exigente com os demais, precisa de alguém que, mais do que um diretor de balneário e de campo, seja uma extensão da Direção, do presidente e do departamento do futebol.
Já está definido quem será?
Perfeitamente.
Quem é?
É alguém de quem gosto muito [risos]. E alguém que eu tenho a certeza de que também gosta muito do Paços de Ferreira.
A gestão do futebol continua a ser bipartida, entre o clube e a SDUQ, liderada por Rui Seabra. É para continuar?
É uma situação que, não fora a descida de divisão do ano passado, funcionou sempre e tem tudo para funcionar. Mas se é uma situação para continuar ou não, está aí uma das razões por eu ainda não ter tomado uma decisão sobre o que será o meu futuro no Paços.
Há hipótese de a SDUQ cair?
Há hipótese de eu poder ser candidato com as coisas perfeitamente clarificadas, em moldes diferentes daqueles que existe atualmente. Mas repito, não quer dizer que isso não funcione porque funcionou. E quero clarificar uma coisa: a minha relação com o Rui Seabra foi sempre a melhor, leal, correta e este ano ficou ainda melhor.
Mas se funciona, por que existem essas dúvidas?
Porque essa decisão não depende só de mim. A minha decisão pode ser a de só continuar num determinado contexto, mas pode haver outras pessoas que não queiram continuar. Agora, admito que o Paços de Ferreira, se eu for candidato, tenha outro tipo de gestão.
Também em Portugal já se começa a ver o aparecimento de investidores. Como presidente, está aberto a isso?
O Paços pode fazê-lo, mas comigo na Direção ou num órgão social isso não acontecerá. Esta Direção tem um compromisso entre os presidentes dos três órgãos: no dia em que os sócios decidam, legitimamente, que o Paços deve abrir portas a um investidor, nacional ou estrangeiro, nós saímos.
O que é que está mal no futebol português?
É o que está mal na sociedade portuguesa: há falta de valores. Quando alguém chega ao futebol português completamente puro, chamam-lhe ingénuo. Parece que ser correto é um defeito para estar no futebol.
Paulo Meneses
Idade: 50 anos (06/03/1969)
Cargo: presidente do Paços de Ferreira
Tomada de posse: 2014
Atividade profissional: advogado