Seleção feminina de basquetebol de sub-19: colocar o nome no mapa ao semear para o futuro
Portugal surpreendeu no Mundial feminino de sub-19, com uma geração sonhadora e que serve de inspiração.
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Na estreia absoluta em Campeonatos do Mundo no escalão sub-19, a seleção nacional feminina escreveu uma das páginas mais marcantes da história da modalidade em Portugal. Em Brno, na Chéquia, as Linces terminaram num inédito 7.º lugar, com quatro vitórias e três derrotas em sete jogos, garantindo a presença entre as oito melhores seleções do planeta. Nunca uma equipa portuguesa, seja ela feminina ou masculina, tinha chegado tão longe numa competição global da FIBA.
O feito é memorável, mas não é fruto do acaso. Reflete anos de trabalho contínuo do staff técnico, o crescimento sustentado desde a formação, o investimento da Federação e o papel cada vez mais relevante dos clubes dedicados à formação feminina. "Nem nos nossos maiores sonhos pensávamos num resultado tão histórico", admite Agostinho Pinto, selecionador nacional. "Trabalhamos com este grupo há três anos. Isto é uma família enorme, onde cada uma sabe o seu papel. Mesmo quem jogava menos estava ali pelo mesmo objetivo". O técnico enumera ainda as razões para tamanho feito. "As condições que nos dão são de topo. Temos estágios longos e bem estruturados, contra equipas de alto nível. E há clubes cá que se dedicam quase exclusivamente ao feminino, com várias equipas por escalão. Isso mudou tudo", revela ao JN.
Clara Silva foi um dos destaques na prova
Foto: Federação Portuguesa de Basquetebol
Para o presidente da Federação, Manuel Fernandes, este é um marco coletivo. "Estas jogadoras deixaram o coração e a alma. Só com essa força interior e um espírito de grupo inabalável se chega tão longe. A forma como festejavam cada vitória foi marcante", disse. Mais do que um resultado, acredita, este é um sinal de mudança. "Temos vindo a bater recordes de equipas femininas federadas. E com o projeto Impulso Feminino promovemos não só atletas, mas também treinadoras, árbitras e dirigentes mulheres. Isto são sementes inspiradoras para as gerações que estão a começar", comentou.
Entre as protagonistas, Clara Silva destacou-se pelo impacto em campo e pela postura fora dele. Foi a jogadora mais dominante da seleção, mas nunca se afastou do coletivo. "É muito acima da média, mas sem qualquer vedetismo. É humilde, inteligente, dura a jogar. Se não tiver azares, sei que vai chegar à WNBA", afirma Agostinho Pinto, sem hesitar, enquanto o líder federativo fala numa atleta que vai elevar o nome do país: "Temos o Neemias Queta (primeiro luso a chegar à NBA), e agora é a vez da Clara triunfar".
Mostrar ao mundo todo o talento
Com 19 anos e 1,98 metros de altura, Clara Silva entrou para os livros de recordes da FIBA ao protagonizar uma das melhores exibições de sempre na história do Mundial: 37 pontos frente a Israel. As suas prestações valeram-lhe o prémio de Melhor Defensora do torneio, coroando uma campanha individual notável, integrando o segundo cinco ideal. Depois de ter passado pela Universidade de Kentucky, a poste prepara-se agora para representar a Texas Christian University, também nos Estados Unidos, onde continuará a desenvolver o seu talento num dos contextos mais exigentes da modalidade.