Sobrado celebra cinco décadas de existência. Clube é a principal bandeira da freguesia
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A 23 de março de 1969, sob a presidência de Joaquim Rocha, nasceu o Clube Desportivo de Sobrado. Desde então, tornou-se numa das principais bandeiras daquela freguesia do concelho de Valongo. Passou a granjear respeito e admiração no distrital da A. F. Porto e em 2014 viveu o maior feito desportivo da história, com a inédita subida ao Campeonato de Portugal, escalão em que competiu durante duas temporadas.
Fundado para dinamizar o futebol na freguesia, o Sobrado começou, inicialmente, por usufruir das instalações da Casa do Povo de Sobrado. Treinado por Hassan Ali, que representou o F. C. Porto, o clube ganhou logo duas taças complementares na A. F. Porto. E sempre com jogadores da terra, que jogavam a custo zero. Como prémio tinham uma cerveja e sandes, na mercearia do Araújo, que funcionava como local de convívio entre os jogadores. Sobretudo depois dos jogos, em que eram apoiados por centenas de adeptos.
Nomes como Geraldinho, Raul, Ângelo, Lima e Paulo Violas continuam a ser relembrados com saudade pelas gentes do clube, que se foi desenvolvendo com o passar dos anos. Conta quem viu que os jogos com os emblemas vizinhos, sobretudo o Valonguense, tinham por hábito ser quentinhos, acabando, muitas vezes, em pancadaria. Tempos longínquos, em que se respirava grande bairrismo e os campos pelados, locais de grandes e duras batalhas, se lotavam de entusiastas adeptos.
Hoje, a realidade é outra. Nem melhor, nem pior. Apenas diferente. "É um orgulho e grande honra presidir o clube numa data tão marcante, que deve servir para lembrar e evocar todos os que ajudaram o Sobrado a ser o que é. Se a freguesia se unir e conseguirmos melhorar as infraestruturas, poderemos ambicionar com outros voos", perspetiva o presidente José Domingos Soares. Hoje, no dia do 50.º aniversário, o Estádio Municipal de Sobrado será palco de um jogo entre velhas glórias, seguindo-se uma homenagem aos sócios já falecidos e um almoço de confraternização, que juntará mais de 200 adeptos.
Clube Desportivo de Sobrado
Fundação: 23/03/1969
Local de jogos: Estádio Municipal de Sobrado, em Valongo
Sócios: 250
Palmarés: Campeão da Divisão de Elite da AF Porto (2013/14) e da 1.ª Divisão da A. F. Porto (2003/04)
Chegar, ver e realizar todos os sonhos
Nuno Bessa é um nome incontornável no Sobrado. Em cinco anos, o então presidente celebrou três subidas de divisão, da 1.ª Divisão Distrital ao Campeonato de Portugal, e conduziu o clube ao maior feito desportivo da história. Três promoções que ganham maior relevo por ser numa altura em que a equipa andava com a casa às costas. O dirigente, de 37 anos, também deixou obra feita ao concretizar a colocação do relvado sintético, um sonho com quase duas décadas.
"Lutámos muito para concretizar um sonho. Para muitos, era inimaginável ter o Sobrado nos Nacionais. Demonstrámos que, com uma estrutura forte e unida, é possível alcançar grandes feitos. Fiz tudo por este clube e tenho um orgulho imenso em o ter ajudado a fazer história", diz, orgulhoso, Nuno Bessa, prometendo "voltar" à presidência. "Voltarei, mas não será em breve. O clube está bem entregue".
Grande exemplo de dedicação e amor
Natural de Sobrado, António Soares englobou a primeira equipa do clube, com apenas 16 anos, e fez parte do primeiro jogo oficial, que terminou com um categórico triunfo frente ao Paço de Sousa, por três bolas a zero.
"Era muito novo e guardo imensas saudades desses tempos. Treinávamos três vezes por semana e quando jogávamos os campos estavam sempre cheios. Foram tempos fantásticos", recorda António Soares, que além de ter jogado toda a vida no Sobrado, "o clube da terra e do coração", ainda foi presidente e dirigente durante muitos anos. Um afeto que se alargou à família, pois é irmão do atual presidente e pai de João Miguel, jogador que alcançou grandes feitos na coletividade e responsável pelo futebol do Sobrado. "Tive vários convites para sair, inclusive do Atlético, que estava na 1.ª Divisão, mas o Sobrado foi sempre o meu clube".
Carismático capitão e símbolo do bairrismo
Capitão da primeira equipa do Sobrado, José Fernando, de 80 anos, foi um dos grandes impulsionadores nos primeiros tempos do clube. E nem os 50 anos de distância conseguem apagar alguns dos episódios vividos ao serviço do emblema pelo qual continuar a ser um apaixonado.
"Havia um grande orgulho em representar o clube da nossa terra. Sentíamos as coisas de forma diferente e existia uma camaradagem muito grande. Na altura, ninguém ganhava um tostão. Ainda tínhamos de levar o equipamento para levar em casa. Além disso, ainda levava o carro quando jogávamos fora para dar boleia a alguns companheiros", recorda, orgulhoso, José Fernando, lembrando, com "saudade", os colegas da histórica equipa do Sobrado. "Seis deles já faleceram. Ficámos na história do clube e isso é um motivo de enorme satisfação para todos", enfatiza, com um brilho no olhar.