V. Guimarães teme "estigma injustificado" e pede retirada do "Caso Marega" de manual de Filosofia
O Vitória de Guimarães exige a retirada de referência ao "caso Marega" num manual da disciplina Filosofia, destinado a alunos do 10.º ano. "Pode criar um estigma injustificado", justifica o clube.
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Intitulado como "Ágora", o livro da disciplina de Filosofia, que tem como autores Susana Teles de Sousa, Isabel Pinto Ribeiro e Rui Areal, pega no episódio que levou à saída de campo de Moussa Marega, jogador do F. C. Porto, aos 70 minutos do jogo frente ao Vitória de Guimarães por insultos racistas vindos das bancadas do Estádio D. Afonso Henriques, e aborda o posicionamento ético levado a cabo pelo pivot de um telejornal enquanto relata os factos ocorridos em 16 de fevereiro de 2020.
"A condenação pública foi rápida (e televisionada ao som do vento...), a assunção de culpa foi traçada, um estigma generalizado foi criado", critica o clube vimaranense, em comunicado, acrescentando que "quem tão depressa quis julgar e moldar a opinião pública, não foi tão célere a repor a verdade sobre os factos decididos pelos trâmites do sistema judicial português que, depois de colocados em marcha, resultaram no pedido de desculpas por parte de três espectadores que estavam nas bancadas do D. Afonso Henriques naquele jogo, assim como as absolvições, em todos os processos em que o Vitória Sport Clube era réu".
Sublinhando que "é filosofia em Guimarães tornar as crianças recém-nascidas sócias do Vitória, passar-lhes os valores do vitorianismo, e o porquê do clube ter escolhido as cores preto e branco e ser-se do clube da terra", o clube "exige a retirada do referido caso de estudo deste livro, que potencia a criação de um estigma injustificado sobre milhares de adeptos e sobre um clube que celebra, dentro de dois meses, o seu centenário".
Editora nega estigma
A Porto Editora, que editou o livro "Ágora", reagiu à polémica num comunicado em que lembra que a inclusão do "caso Marega" tem como intenção promover "a análise, discussão e debate de um tema segundo diferentes perspetivas, método reconhecidamente profícuo no processo de ensino-aprendizagem".
Por isso, rejeita a ideia de que o manual "potencie a criação de um estigma injustificado sobre milhares de adeptos, como refere o comunicado emitido pelo clube vitoriano".
Apesar de todo o mediatismo em torno do caso, o processo ficou encerrado com um pedido de desculpas público por parte dos três arguidos investigados pelo Ministério Público ao jogador Moussa Marega. Os referidos adeptos ficaram impedidos de aceder a recintos desportivos durante o ano e foram obrigados a pagar 3 mil euros ao Estado.
Ao Vitória de Guimarães foi aplicado, pelo Conselho de Disciplina da FPF, um castigo de três jogos de interdição do Estádio D. Afonso Henriques, mas o clube apresentou recurso da decisão e acabaria absolvido.
Num acórdão do Tribunal Central Administrativo do Sul, fica claro que Moussa Marega foi "efetivamente alvo de cânticos proferidos repetidamente e em uníssono", de teor racista, mas "a prova produzida não pode levar à conclusão de que o Vitória de Guimarães consentiu ou tolerou os cânticos racistas em causa".