Villas-Boas em Espinho: "Vou trabalhar pro bono, porque venho para servir o F. C. Porto"
O candidato à presidência pela lista B esteve, este sábado à tarde, numa concorrida sessão na Casa do F. C. Porto de Espinho. André Villas-Boas insistiu na sustentabilidade financeira, voltou a apontar os projetos que quer ver implementados, se for eleito, e garantiu que vai "trabalhar pro bono", ou seja, sem salário.
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Foi já durante a parte final da visita à Casa de Espinho, por entre elogios que mereceram aplaudos de uma sala que se tornou apertada para acomodar toda a gente, e na resposta uma questão colocada pelos adeptos, no caso sobre a política de remunerações da SAD, que Villas-Boas revelou que não irá cobrar salário se for eleito presidente.
"Temos um compromisso bem maior do que um corte de 50 por cento. No caso da remuneração fixa vai ser muito maior, porque tenho a intenção de trabalhar “pro bono”, para servir os interesses do F. C. Porto e não me servir do clube. O Pereira da Costa (CFO) aceitou um corte em relação ao que recebia, porque vem com espírito de missão. Em relação à remuneração variável ela só pode fazer sentido com resultados financeiros e desportivos positivos", disse.
O antigo treinador insistiu que esta é a hora dos sócios "votarem na mudança" e esclareceu porque não vê candidato em 2028 caso perca no dia 27 e deixou um recado a José Fernando Rio, o segundo mais votado no último ato eleitoral. "O candidato de 2020, com 26 por cento dos votos, acabou por não se candidatar agora e apareceu na candidatura de Pinto da Costa. Vê-se a tentativa de defraudamento total desse eleitorado, sem justificação. Acho que 2028 será tarde demais. Se em 12 anos o F. C. Porto aumentou o passivo em 250 milhões de euros e se encontra em falência técnica, que clube vai restar caso a atual direção tome posse? Outro cenário são os conflitos de interesse com os nomes propostos por essa candidatura. Um nome dessa candidatura está ligado a um fundo que empresta dinheiro, sem se saber a que juros, e que será detentora colateral de 70% dos direitos desta nova empresa. O F. C. Porto está a financiar-se através desse fundo e a dar como colateral receitas, sejam elas da UEFA, ou de transferências", criticou, acrescentando: "São sinais de degradação e conflitos de interesses evidentes. O F. C. Porto de 2028 não será este que conhecemos. É uma avaliação clara nesta fase. Por isso, chamo a um sentido de urgência para votarem na mudança agora".
Sobre a divisão dos adeptos com o aparecimento da sua candidatura, foi claro: "Todas as eleições levam a uma escolha entre o melhor projeto e pessoa e quando há eleições elas são divisionistas por natureza, mas se os adeptos são incapazes de ver o bem comum ou bem maior, isso tem a ver com eles. Quem viveu o ato eleitoral de 1982 esse é que foi divisionista, porque aí houve jogadores raptados e treinadores desviados, mas ditou, felizmente, a eleição do nosso presidente. Mas ao ser eleito, que seja respeitada a vontade dos sócios".
Questionado por um adepto sobre a ligação da candidatura a Antero Henrique, anunciada por Pinto da Costa, Villas-Boas negou qualquer ligação ao antigo diretor desportivo, que elogiou. "Ele terá sido dos melhores profissionais que já vi a trabalhar no futebol. Depois a sua carreira evoluiu de tal forma que opera de forma superior. Mas foi um diretor desportivo que tentei levar para todos os clubes onde estive e nunca consegui fruto da sua qualidade. Não está vinculado ao F. C. Porto atualmente, nem no futuro, mas se o puder usar para sugestões futuras assim farei”, comentou.
Antes das perguntas dos sócios, Villas-Boas voltou a explicar os planos que tem para o clube, bem como a prioridades para o mandato caso seja eleito, insistindo que a "sustentabilidade financeira é fulcral". "Temos um longo caminho pela frente em relação à sustentabilidade financeira. Mas este é um ponto de mudança, o que temos feito é renegociar a divida do F. C. Porto, que paga entre 25 a 30 milhões de euros de juros por ano, o que pressiona a tesouraria. O clube tem caminhado para um lugar negro, não tem dinheiro, mas tem uma montanha de mais de 250 milhões de euros que se acrescentaram em 12 anos e que temos de recuperar. O apoio na sustentabilidade através da formação é essencial, é preciso ter coragem para apostar em jovens valores na equipa principal. Vamos reformular o scouting e observação de jogadores, uma área em que perdemos muito valor, continuamos a perder jogadores a custo zero e temos tido muitas dificuldades no mercado", afirmou, anunciado que na próxima quinta-feira irá apresentar a direção executiva.
Villas-Boas insistiu em que é prioritário dinamizar o associativismo no clube, prometendo melhorar a comunicação com os sócios e apoiar as casas do F. C. Porto, de forma a cativar mais sócios - só 15% dos sócios das casas são associados do clube. Prometeu fazer auditorias à bilhética e aos negócios da equipa B. "É uma obrigação analisar a situação atual e o porquê de determinadas perdas de valor, quero saber as coisas que não posso voltar a fazer. Temos o estádio mais cheio, mas com menos dinheiro e tenho de encontrar as razões para isso. Com a equipa B é a mesma coisa, foram pagas comissões elevadíssimas com jogadores que nem jogaram na equipa e quero saber as razões disso e ir ao encontro disso para saber dessas decisões. Serei implacável com toda e qualquer pessoa que tenha lesado o F. C. Porto. Não é para tocar no legado de Pinto da Costa, mas qualquer empresa normal faz estas diligências. Mas ninguém está acima do F. C. Porto e dos seus interesses", vincou.
Nas modalidades, Villas-Boas disse que os projetos começaram a ser preparados com sondagem aos adeptos - futebol feminino, basquetebol, atletismo e ciclismo foram as mais votadas - e que a primeira aposta irá para o futebol feminino e o futsal.
O candidato comentou ainda o contratempo na construção da academia na Maia. "Houve ontem (sexta-feira) mais um contratempo, o que significa mais tempo perdido e todos estes contratempos limitam o futuro do F. C. Porto e isso não podemos deixar passar. Mas olharemos para os dois projetos de forma cuidada e decidiremos qual fará mais sentido para o futuro do F. C. Porto", defendeu.