<p>Com o auxílio de 25 mil amigos virtuais, a busca demorou apenas um mês. Vinte e três anos depois, o Facebook ajudou a reunir o argentino Mauricio Barrios com a mãe, que o tinha abandonado com sete dias de vida. É o fantástico mundo das redes sociais em que o longe se faz perto e o impossível não o será assim tanto. </p>
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Se há uns anos era necessário um esforço de Golias para conseguir encontrar alguém que tenha feito parte da nossa vida passada, hoje em dia as redes sociais na Internet facilitam a tarefa. Ficam de lado as buscas de documentos oficiais, o procurar algum contacto esquecido naquela agenda bolorenta que está guardada na arrecadação ou o bater de porta em porta com uma fotografia na mão à espera que alguém reconheça a pessoa que procuramos. Tal não é necessário, basta ir ao Facebook, ter um pouco de sorte e, talvez, a ajuda da comunidade. A informação disponível na Internet e a velocidade de comunicação online são armas poderosas.
Quando o argentino Maurício Barrios criou a página "Procuro a minha mãe" no Facebook, começou a tirar partido daquilo que de mais cor-de-rosa pode ter a Internet: encontrar entes queridos e o retomar de laços afectivos. A vida foi madrasta para Maurício, com apenas sete dias de vida, este jovem, agora com 23 anos, foi deixado ao abandono na maternidade. Depois de criar a página de Facebook, uma amiga da mãe reconheceu a pessoa de quem se falava e marcou o reencontro entre mãe e filho.
Os casos sucedem-se em catadupa na Comunicação Social. Um outro reencontro divulgado pelos Média dá conta de uma história de rapto na Califórnia, EUA. O pai de duas crianças raptou os dois filhos, levando-os para longe da mãe. 15 anos depois, com uma simples busca no Facebook, as crianças foram encontradas e o pai detido. O caso ainda dá que falar na Imprensa internacional, visto que decorre agora uma disputa em tribunal e os filhos, que não conheciam a mãe, não estão felizes com os acontecimentos. "Ela não me conhece, o pai está na cadeia. Julgo que me culpa por tudo isto", disse Prince Sagala, a mãe das crianças, à agência Associated Press.
Com um grau de certeza bastante elevado, podemos afirmar que tais histórias seriam praticamente impossíveis de realizar sem uma sociedade cada vez mais aberta à tecnologia e que deposita na Internet a responsabilidade de facilitar a interacção social. Um estudo da Universidade Carnegie Mellon, nos EUA , revela que, apesar da preocupação demonstrada pelos participantes nos inquéritos, uma boa parte deles teria poucos cuidados com a sua privacidade no Facebook, pelo que será fácil recolher informações privadas na rede.
A ideia de que a Internet isola os utilizadores parece estar, cada vez mais, ultrapassada. Um estudo da Universidade do Indiana, revela que o "Facebook parece desempenhar um importante papel no processo pelo qual os estudantes formam e mantêm capital social". Isto é, as redes sociais permitem aos jovens aprofundarem e aumentarem a interacção social, criando uma rede de contactos que facilitam o acesso a mais conhecimento e informação.
Omesmo trabalho, realizado no campus da universidade, revela que quase todos os utilizadores do Facebook inquiridos incluem no seu perfil o nome da escola secundária que frequentaram. Facto que sugere, de acordo com os autores do estudo, que o uso do Facebook é motivado pela possibilidade de contacto com antigos colegas de escola.
Os exemplos não precisam de ter carácter épico como os referidos anteriormente. Poder reencontrar alguns dos amigos que as vida foi separando com o correr dos anos é uma das funções que as redes sociais cumprem com diligência. A revista "Time" afirma que o "Facebook existe para "encontrar pessoas de quem perdemos o rasto" e vai mais longe ao dizer que este serviço é mais dedicado aos mais velhos, que, com os anos de vida que levam, já se esqueceram de mais gente e, como tal, precisam de mais ajuda. "O Facebook nunca esquece", sublinha o artigo.
Recentemente, o Facebook também trouxe alegria a 500 amigos portugueses que, por vários motivos, se foram afastando ao longo da vida. O encontro foi marcado para o Mosteiro de Landim, em Vila Nova de Famalicão, e juntou gente de vários pontos do país e até de Angola. "Tenho encontrado gente que não via há muitos anos. Amigos de todo o lado", dizia Alexandre Casal ao JN na altura.
"Universidade, trabalho, caminhos diferentes distanciaram-nos e reencontramo-nos agora", resumia assim José Marinho, outro dos participantes no encontro, o percurso que muitos seguem desde o perder contacto até ao reencontro cibernético no mundo virtual do Facebook, que agora se tornou real.
"Com a separação da ida para a Universidade, as relações com os amigos do secundário tornam-se frágeis", revela um estudo sobre Tecnologias da Comunicação da Universidade de Columbia, nos EUA. Os autores do trabalho, terminado em 2007, acreditam que tecnologias como o email ou os serviços de mensagens instantâneas são fundamentais para manter os laços activos. Com o crescimento do Facebook nos últimos dois anos, as redes sociais parecem estar a tornar-se também parte da solução para o afastamento.
Uma tecnologia é, à partida, neutra. Nobel não pensou na dinamite como arma, mas como ferramenta de trabalho. Para os pessimistas, que pintam a Internet como arma diabólica e antro de vícios, estes exemplos recordam as potencialidades fantásticas que a rede global de computadores pode ter. Se o ser humano consegue pegar nesta tecnologia, o "software social", como chamam os estudiosos às redes sociais, e torná-lo em algo nefasto, também o conseguem fazer para o transformar numa ponte que une as pessoas. Uma "arma" poderosa terá sempre de ser manejada com precaução e, como tal, um serviço como o Facebook terá de ser utilizado com precaução para não cair em esparrelas, contos do vigários ou, quem sabe, algo pior.