Estratégia nacional arranca no fim do verão para recrutar mão de obra noutros países. Construção, agricultura e turismo participam em missões para simplificar a imigração.
Corpo do artigo
Portugal precisa de centenas de milhares de trabalhadores, especialmente nos setores do turismo, da agricultura e da construção, e está a contar recrutá-los na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), bem como em Marrocos. A primeira feira de recrutamento está prevista para outubro, em Cabo Verde. O Turismo do Algarve já esteve, neste mês, naquele país do Atlântico, onde quer angariar cinco mil trabalhadores para cobrir as necessidades mais urgentes do setor.
O Governo aprovou um novo regime jurídico para entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros do território nacional, com vista a "simplificar, entre outros aspetos, a emissão de vistos para estes cidadãos". Segundo fonte do Ministério do Trabalho e Segurança Social, "está prevista a realização da primeira Feira de Empregabilidade em Cabo Verde, em outubro", na qual as empresas podem inscrever-se.
"Temos cinco mil vagas para preencher imediatamente no turismo, no Algarve", calcula João Fernandes, presidente do Turismo do Algarve, no regresso da missão a Marrocos e a Cabo Verde, que se realizou este mês. "A missão juntou uma série de entidades, desde o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, o Instituto do Emprego e Formação Profissional, a Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, a Associação dos Industriais Hoteleiros e Similares do Algarve e a Associação dos Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos concelhos de Odemira e de Aljezur, que "conversaram" com as congéneres dos países e estabeleceram protocolos de funcionamento articulado, de forma a haver segurança também para as pessoas que aceitem vir para Portugal", acrescentou.
Cabo Verde é a grande aposta, porque "tem uma população muito jovem, afetada por uma taxa de desemprego de 20%, sendo a geral de 15%". Os grupos hoteleiros com presença em Cabo Verde, como o Pestana, já estarão a fazer um trabalho de antecipação, "formando trabalhadores". Por cá, preparam "condições para alojar esse pessoal, abdicando de quartos na hotelaria", dada a falta de casas para trabalhadores na região. Até lá, o verão está a decorrer a "meio gás" nalguns hotéis e restaurantes, que, por exemplo, optam por abrir apenas ao jantar por falta de pessoal a tempo inteiro.
imigrar com rede
As empresas de construção civil, que necessitam de 80 mil trabalhadores, já tinham começado, nalguns casos, a recrutar e formar cidadãos da CPLP para ajudar a resolver o problema. Foi o caso da Mota Engil, que estabeleceu uma parceria com o Instituto de Formação dos Países de Língua Oficial Portuguesa e, há dias, assinalou o acolhimento dos primeiros 21 trabalhadores guineenses a integrar a empresa em Portugal.
"Mais importante ainda do que a documentação legal, que é absolutamente imperativa, é a garantia de alojamento condigno, de trabalho justamente remunerado e a existência de uma rede de apoio local, para o que possa ser necessário", disse Horácio Sá, presidente da administração da Mota Engil, salientando que as condições dadas aos trabalhadores que agora chegaram são iguais àquelas que são oferecidas aos portugueses que a Mota Engil leva para o estrangeiro. O processo de recrutamento, de seleção e de formação dos trabalhadores decorreu em apenas três meses e aqueles que quiseram estabelecer-se em Portugal tiveram direito a contrato de trabalho e visto de trabalho de um ano (renovável), segundo informação da empresa.
INE
Desemprego mantém mínimos de décadas desde o início do ano
O nível de desemprego em Portugal fixou-se nos 6,1% no mês de junho, uma taxa 0,1 pontos percentuais acima do registado em maio e 0,6 percentuais abaixo do verificado em junho de 2021, revelou o Instituto Nacional de Estatística (INE). De acordo com as estimativas mensais de emprego e desemprego, no final de junho, a população ativa ascendia a 5,169 milhões de pessoas, menos 0,3% face a maio e mais 0,2% face a junho de 2021. Dessa população ativa, mais de 4,8 milhões de cidadãos estavam empregados. De acordo com os dados estatísticos, só se encontra desemprego mais baixo neste século há 20 anos: em 2002 (5%) e 2001 (4%).
*José Varela Rodrigues