Imigrantes estão a socorrer negócios em Caminha, que no verão se enche de turistas. Mesmo a pagar mil euros, é difícil contratar.
Corpo do artigo
Alice Sofia, empresária de restauração, tem um anúncio a pedir funcionários desde março, à porta do estabelecimento, em Caminha. Fez na mesma altura inscrição no Centro de Emprego. Precisa de três pessoas para assegurar o verão, mas está a trabalhar sozinha, a atender as 23 mesas (43 lugares) do restaurante. Conta com a ajuda do marido, agente da GNR, só nas horas vagas. A cozinha está nas mãos da cozinheira de sempre e a esplanada a cargo da filha daquela trabalhadora, estudante agora de férias. Alice Sofia mostra-se agastada com a situação.
"Tive a equipa formada, mas todos abandonaram. Ninguém quer fazer horas, fins de semana, noites", desabafa. "Tive um miúdo de 17 anos que veio num fim de semana e foi embora. Está a ser muito difícil e vai para pior. Mais tarde ou mais cedo, sobreviveremos três ou quatro restaurantes, que tenham família para ajudar".
O pai de Sofia, David Esteves, de 87 anos, foi empregado de hotelaria entre 1957 e 1982. "Só fui patrão a partir de 1982. Primeiro, trabalhei só com a família, mas, depois, cheguei a ter sete e oito empregados no verão. Nunca tive problemas em contratar. As pessoas vinham pedir", conta, acrescentando que o problema da mão de obra "começou nos últimos anos e agora é demais".
O fenómeno está a preocupar empresários e entidades públicas da região, que se enche de turistas na época balnear. Miguel Alves, autarca de Caminha e presidente do Conselho Regional do Norte, alerta para a falta de mão de obra em várias áreas: restauração e hotelaria, construção civil, jardinagem, trabalhos florestais e agrícolas... Há falta de mão de obra até na Função Pública. "A verdade é que, na celebração de contratos de emprego e inserção, já temos alguns concursos desertos", refere. E Caminha, "em junho, registou o número de desempregados, 260, mais baixo de sempre". Para o autarca, é muito evidente a necessidade de mão de obra. E, lá como noutras regiões, os estrangeiros estão a salvar os negócios de verão. "Há cada vez mais estrangeiros a chegar e são muito bem-vindos para trabalhar nestas áreas onde faltam trabalhadores", comentou.
Reduziu lugares à sala
Vítor Fonseca, proprietário de um restaurante em Vila Praia de Âncora, confirma este cenário. Reduziu ao número de mesas da sala (menos 40 lugares), para trabalhar com a equipa que conseguiu formar com 11 funcionários (precisava de 14), pagando salários "acima dos mil euros". E falta-lhe gente na cozinha. Tem empregados de várias nacionalidades: uma afegã, são-tomenses e cabo-verdianos. Perdeu há dias uma trabalhadora síria, que foi trabalhar para a Alemanha. "Reduzi às mesas para manter a qualidade do serviço. Não há mão de obra. É como ter um bom carro e não ter dinheiro para meter o combustível", confessa o empresário, referindo que "cada vez mais são os estrangeiros a aparecer para trabalhar".
Lúcia Carvalho, de uma pastelaria local, também partilha da aflição que é contratar pessoal. "Este ano, foi muito difícil. Pomos anúncios, as pessoas vêm, mas quando dizemos que têm de trabalhar ao fim de semana, é um problema. Os estrangeiros são uma mais-valia para nós".