"Não vale a pena insistir na tecla que não sabiam". O ex-responsável pela gestão de risco do BES Angola, João Moita, que trabalhou no banco com Álvaro Sobrinho, garantiu, esta quarta-feira, no Parlamento que, desde o final de 2011, o BES Lisboa sabia da situação do crédito concedido sem garantias em Luanda. E desvalorizou o peso da situação do BESA na resolução do BES.
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O responsável citou um relatório, enviado para Lisboa em dezembro de 2011, a pedido do BES, no âmbito de uma inspeção em curso pela troika, que identificava a situação do crédito sem garantias, e que foi do conhecimento de Ricardo Salgado, Morais Pires e Joaquim Goes. Insistiu que o BES tinha a "informação necessária e suficiente" da situação e recusou a classificação de "pavorosa" e de "surpresa" feita por Salgado quando foi ouvido no Parlamento.
"Se em 2011 enviamos um documento que diz que 41% da carteira de crédito não tem garantias e que, da outra parte, cerca de 70% são contratos de promessa de hipoteca e nem sequer hipotecas efetivas, não é preciso chegar a 2013 para dizer que descobrimos situações pavorosas que não sabíamos", disse, numa crítica direta à declaração de Salgado.
João Moita, que antes já estivera na comissão de inquérito a acompanhar Álvaro Sobrinho, reconheceu que a situação do BESA "não era fácil" mas recusou que fosse "uma surpresa" para o BES. E mostrou-se incrédulo com as afirmações do ex-presidente da comissão executiva do BES, até porque, depois do relatório de 2011, o BES continuou a aumentar a exposição ao BESA.
Sobre a lista dos maiores credores do BESA, garantiu que "os nomes existem e estão identificados" e considerou "absurda" a ideia que 80% da carteira de crédito era para beneficiários desconhecidos e incobrável.
Questionado pelos deputados, João Moita negou que tenha autorizado sozinho créditos de 500 milhões de dólares, conforme aparece descrito numa ata da assembleia geral do BESA de outubro de 2013. Assegurou que as operações eram sempre aprovadas por três pessoas e levadas ao conselho de crédito do BESA.