O juiz Carlos Alexandre está na sede do Novo Banco a liderar buscas do Departamento Central de Investigação e Ação Penal. Buscas estendem-se a casas e escritórios de Ricardo Salgado e outros administradores do BES.
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No total, 200 agentes da PJ participam em cerca de 60 buscas na zona de Lisboa, adiantam os canais de televisão SIC Notícias e TVI 24. A investigação é do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).
As buscas estão a ser lideradas pelo juiz Carlos Alexandre, o mesmo que prendeu Sócrates preventivamente e que deteve, ainda, o ex-diretor do SEF, Manuel Palos, entre outros arguidos, no caso "vistos gold".
Segundo os media nacionais, as buscas decorrem de suspeitas de crimes de burla, branqueamento de capitais, fraude fiscal e abuso de confiança.
A ação, articulada entre o DCIAP e o procurador Rosário Teixeira, o mesmo do caso Sócrates, avançou esta quinta-feira de manhã, na sequência de uma queixa-crime apresentada pelo Banco de Portugal, em setembro.
Após rebentar o chamado caso BES, a PGR criou uma equipa especial para investigar as alegadas irregularidades e os ilícitos criminais na gestão daquele banco, sendo a equipa multidisciplinar constituída por magistrados do DCIAP, elementos da Autoridade Tributária, da PJ e dos reguladores - Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e Banco de Portugal.
~ Recorde-se que no passado dia 17, quando foi ouvido na comissão parlamentar de inquérito do BES, o governador do BdP, Carlos Costa, revelou que a instituição já havia instaurado processos sancionatórios no âmbito das investigações em curso ao BES.
"Até à presente data, o BdP já instaurou diversos processos sancionatórios que estão protegidos pelo segredo de justiça", afirmou Carlos Costa.
Na base destes processos estão quatro matérias distintas, especificou o governador, desde logo, as avaliações de colocação de risco na comercialização de papel comercial da Espírito Santo International (ESI) no mercado e, paralelamente, a ocultação de informação por parte da 'holding' de topo do GES.
Depois, estão em causa as "relações entre o BES e o BES Angola", frisou Carlos Costa, apontando para a existência de "risco de branqueamento de capitais".
Também há "existência de indícios de atos de gestão dolosa na colocação de dívida através de entidades estrangeiros", adiantou o mesmo responsável.
Por fim, a quarta área em que já houve avanços ao nível da instauração de processos sancionatórios passa pelo "não cumprimento das recomendações do BdP ao nível do 'ring fencing'", isto é, as medidas que se destinavam a proteger o BES do risco de exposição às empresas do universo GES.
Na mesma ocasião, o governador disse ainda que os trabalhos da auditoria forense sobre o BES, feita a pedido do BdP, estão avançados, mas não concluídos e que os relatórios da mesma vão ser enviados para o Ministério Público.
Ainda este mês, no dia 09, a SIC, citando as conclusões de uma outra auditoria ao BES feita pela PricewaterhouseCoopers (PwC) a pedido do BdP, noticiou que o ex-presidente do BES retirou várias centenas de milhões de euros da instituição através de 'offshore' nas últimas semanas antes de abandonar a liderança.
Segundo a SIC, a auditoria mostra que "Ricardo Salgado e a sua equipa fizeram gigantescas transferências de dinheiro para fora do banco através de quatros sociedades 'offshore'" com sede nas ilhas britânicas do Canal da Mancha.
Atualmente estarão em curso duas auditorias: uma conduzida pela PwC e outra pela Deloitte.
A auditoria da PwC, feita a pedido do BdP, tem como objetivo de verificar se foram cumpridas as medidas que o supervisor ordenou para separar o BES e as restantes empresas do universo Espírito Santo, depois de terem sido detetadas "irregularidades graves" no seio das contas das 'holdings' de topo do Grupo Espírito Santo.
A auditoria conduzida pela Deloitte arrancou no final de julho, quando já estava ativa a da PwC, e visa 'passar a pente fino' todas as matérias relacionadas com a gestão de carteiras, com a gestão de patrimónios, com as contas e com a comercialização de instrumentos financeiros no BES.
A 03 de agosto, o BdP tomou o controlo do BES, após o banco ter apresentado prejuízos semestrais de 3,6 mil milhões de euros, e anunciou a separação da instituição em duas entidades: o chamado banco mau, um veículo que mantém o nome BES, e o Novo Banco.