O INE reviu em ligeira alta o crescimento do PIB no segundo trimestre, mas mantém-se a desacelaração do ritmo da economia face ao trimestre anterior. Um abrandamento motivado pela duplicação das importações que anulou o efeito positivo do aumento das exportações.
Corpo do artigo
Entre Abril e Junho, a economia portuguesa cresceu 0,3% face aos três meses anteriores e 1,5% em termos homólogos. Em ambos os valores houve um acerto em alta de 0,1 pontos percentuais, mas em ambas as situações se regista um abrandamento por comparação com o trimestre anterior. A explicar este desaceleração esteve a deterioração da procura externa líquida, já que o contributo do consumo interno teve um efeito positivo, ao subir.
Apesar da fraca performance da economia ao longo do segundo trimestre, ganha força a convicção entre alguns economistas de que as actuas previsões de crescimento poderão ser ultrapassadas quando as contas do final do ano ficarem fechadas. Seja como for, o ministro da Economia não quis adiantar uma posição sobre esta matéria, remetendo a questão para o Orçamento do Estado. Comentando os dados ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, Vieira da Silva sublinhou que, com esta revisão em alta, o crescimento do PIB nos primeiros seis meses de 2010 foi superior às expectativas do Governo.
O comportamento da economia no segundo trimestre esteve essencialmente associado à diminuição do contributo da procura externa líquida. É que, naqueles três meses, o crescimento das importações duplicou (passando de 5,3% para 10,4%), pelo que a subida das exportações (de 8,8% para 10,1%) não foi suficiente para compensar o aumento das compras ao exterior.
Material militar
Já do lado da procura interna, o INE contabilizou um aumento homólogo de 2,2% (praticamente o dobro da variação do trimestre anterior). Uma aceleração que o organismo oficial de estatística atribui ao crescimento acentuado das despesas de consumo das famílias e sobretudo das administrações públicas. Mas neste último caso, a subida está "em grande medida" associada à importação de equipamento militar, tendo por isso um impacto "virtualmente nulo no PIB". Ao que tudo indica será a compra do submarino Tridente - que custou ao Estado cerca de 500 milhões de euros - que estará a potenciar parte da subida da procura interna.
Pela outra parte desta subida respondem as despesas de consumo das famílias, principalmente de bens duradouros (nomeadamente carros). Os valores em causa reflectem ainda, todavia, alguma antecipação de compras para evitar a subida do IVA, que começou a 1 de Julho.
Segundo o INE, as despesas das famílias subiram 2,8% homólogos, potenciadas pelo aumento expressivo (de 15,6% homólogos) da compra de bens duradouros e também por algum crescimento nos gastos de consumo corrente. Neste último caso verificou-se uma subida de 1,6%, acima do 1,4% do primeiro trimestre.
Citado pela Agência Lusa, o líder do CDS/PP manifestou-se pouco impressionado com a revisão em alta do PIB, adiantando Paulo Portas que o problema da economia portuguesa "não é ter 0,1 a mais ou 0,1 a menos", mas sim "o zero". Já o PCP, pela voz de Vasco Cardoso, classificou como "absolutamente inexpressiva" aquela alteração, salientando que uma "leitura mais atenta leva a constatar o abrandamento do crescimento, já de si ténue, no
segundo trimestre".
Outros dados
Balança comercial agrava-se
O défice da balança comercial agravou-se em 495,3 milhões de euros devido à subida de 12,7% das importações (cujo valor totalizava em Julho 14,7 mil milhões de euros) e de 13,8% das exportações (cujo valor ascende a 9,5 mil milhões de euros).
Espanha reforça posição
O maior crescimento homólogo das exportações portugueses teve como destino Espanha que assim voltou a reforçar a sua posição como principal destino das nossas vendas. Já para Angola as vendas caíram.
Procura de hotéis de 5 estrelas
O número de hóspedes e de dormidas em hotéis tiveram em Julho subidas homólogas de 9,8% e 8,1%, respectivamente. Mas o maior aumento foi nas unidades de 5 estrelas, cuja procura disparou 29%.