O secretário-geral da UGT considerou, esta segunda-feira, "profundamente desumana" e prejudicial à competitividade da economia decisão do Governo de suspender as reformas antecipadas, num discurso em que classificou "insustentável" a trajetória de aumento do desemprego.
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João Proença falava nas Jornadas Parlamentares do PS, num painel sobre crescimento e emprego, em que também participou a ex-ministra do Trabalho Helena André.
Num comentário à recente decisão do Governo de suspender as reformas antecipadas, o secretário-geral da UGT disse que "a diminuição da flexibilização entre idade de trabalho e de reforma é profundamente negativo para o emprego e para a atividade das empresas".
"Vedar às empresas mecanismos de flexibilidade, impedir os trabalhadores de gerirem melhor a sua vida profissional e a passagem à vida da reforma é profundamente negativo dos pontos de vista do emprego, da competitividade das empresas e é profundamente desumano. Desumano porque não se pode dizer a um trabalhador com uma longa carreira contributiva que agora está impedido de se reformar e só se pode reformar aos 65 anos", disse.
Segundo João Proença, na medida do Governo "não está em causa qualquer penalização por antecipação da idade da reforma".
"Está em causa um direito por ter uma carreira contributiva, em alguns casos de 42 ou 46 anos de descontos", declarou.
Perante os deputados do PS, João Proença reiterou a tese de que a atual trajetória de crescimento do desemprego "é insustentável" - poderá atingir os 15 por cento no final do ano - e que é errada a ideia do Governo de automatismo de crescimento económico após saneadas as contas públicas, deixando então críticas ao Governo por, na sua perspetiva, nada fazer em termos de proteção do tecido produtivo e de "ignorar totalmente a formação ao longo da vida e a certificação de qualificações obtidas no emprego".
Na sua intervenção, o secretário-geral da UGT contestou também a análise que é feita sobre a situação económica nacional, considerando que se estão a ignorar alguns dados objetivos.
"Quando se fala de Portugal acentua-se a questão da dívida soberana do Estado, mas o que carateriza a situação nacional é que temos as empresas mais endividadas da Europa e, ao mesmo tempo, há um grande endividamento das famílias por causa de uma pressão exagerada sobre o crédito", apontou João Proença.
"As sucessivas revisões do memorando da 'troika' persistem na aplicação de políticas altamente lesivas, nomeadamente pondo em causa a negociação coletiva. A última revisão, por exemplo, colide frontalmente com os compromissos assumidos pelo Governo nas áreas da competitividade e emprego", acrescentou.
Depois da intervenção de João Proença, a deputada socialista Helena André advertiu que a bancada do PS "não pode calar-se" perante "o ataque do Governo à escola pública e aos programas de qualificação".
"Estamos perante um ataque claro à escola pública e um ataque também claro ao programa Novas Oportunidades", disse a ex-ministra do Trabalho e da Solidariedade Social.