Portugal está numa situação "muito difícil e exposto a mais ataques dos mercados financeiros" se a União Europeia não se comprometer rapidamente com a ajuda à Grécia, dizem vários economistas alemães.
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"Compreendo que o governo português fale de um ataque externo, mas de facto Portugal está a dar muitas dores de cabeça aos mercados financeiros", admitiu Oliver Holtemoller, especialista em macroeconomia do Instituto de Pesquisa Económica de Halle, citado pela Agência Lusa.
"Os mercados perderam a confiança em Portugal, apesar de não ter mudado nada de terça-feira para hoje, razão para que o governo fale de um ataque especulativo", disse o mesmo especialista.
Se a situação se agravar, no entanto, Portugal "não poderá fazer nada sozinho, como a Alemanha também não poderia, para sair das dificuldades", adverte Holtemoller. A solução, diz, é adoptar mecanismos na zona Euro que permitam aos países membros ajudarem-se mutuamente, em situação de crise.
"Sem se transformar numa união de transferência monetárias, a União Europeia tem de tomar uma decisão política, se não quiser pôr em causa a integração europeia", advertiu o professor de Halle.
Holtemoller criticou ainda a indecisão do governo alemão em declarar abertamente que ajudará a Grécia, atribuindo a estratégia de Ângela Merkel à tentativa de evitar custos eleitorais. "Foi uma estratégia que não resultou, mas é necessário lembrar que o principal problema é, de facto, o endividamento da Grécia, só que o governo alemão devia ter sido rápido e claro, fosse qual fosse a sua decisão", concluiu o mesmo economista.
O director do centro de pesquisa de macroeconomia internacional do Instituto da Economia Alemã (DIW), Ansgar Belke, de Berlim, partilha a mesma opinião, mas adverte que, mesmo depois de haver "luz verde" para a ajuda à Grécia, os mercados "podem querer pressionar Portugal, para testar se a União Europeia também lhe dará apoio".
O professor alemão considerou que a baixa taxa de poupança é o principal problema da economia portuguesa, aconselhando a uma redução do consumo, para elevar a referida taxa, e ainda uma política salarial moderada, com o objectivo de descer o preço dos produtos e poder aumentar as exportações.
Portugal "é suspeito para os mercados porque tem coisas em comum com a Grécia, e a principal é a sua baixa taxa de poupança, que está na casa dos 10%, metade da média europeia", disse Belke, lembrando que a taxa grega é de 7,2%.
Ao contrário da Espanha ou da Irlanda, por exemplo, que apesar da sua difícil situação financeira, "têm taxas de poupança mais elevadas e podem endividar-se a nível interno, Portugal depende muito do capital estrangeiro", observou o economista alemão.
Quanto aos custos salariais, "também terão de ser reduzidos, porque são muito altos, se comparados com a produtividade, e só assim o sector privado poderá exportar mais do que importar", acrescentou Belke.