Pescadores afirmam que a seca levou à diminuição do produto e cada dose pode chegar aos 130 euros.
Corpo do artigo
A situação é generalizada em todo o país. Este ano "não há lampreia", ciclóstomos, que precisam subir os cursos de água para desovar, devido à "seca", sumariza João Paulo Lopes, presidente da Associação de Pesca Artesanal da Região de Aveiro, explicando que muitos pescadores até desistiram da arte por "não ser rentável".
Foi o caso de Maurício Nunes. Das cinco vezes em que tentou, este ano, apanhar no canal de São Jacinto, Aveiro, só trouxe "três" exemplares. Nos anos anteriores, conseguia "umas três lampreias por dia". Por isso, agora dedica-se a apanhar amêijoa e berbigão.
Quem ainda tenta a sorte consegue um preço mais elevado. Cada exemplar rondará, atualmente, os "40 a 50 euros" na região de Aveiro, diz Maurício. O ano passado, devido à pandemia, caiu para uns "sete euros". A norma, antes da covid-19, eram "12 a 14 euros",
A escassez nos rios Lima e Minho também fez disparar os preços ali. Na lota em Viana do Castelo, este ano, houve exemplares que chegaram a ser vendidos a "78 euros mais IVA", quando em 2021 por esta altura, o preço rondava "20 a 25 euros". Quem o afirma é o antigo pescador Alfredo Gonçalves.
O "pior ano de sempre"
"É inédito. Guiando-me pelos outros anos desde que construíram a barragem do Lindoso (1992), este é o pior ano de sempre [no rio Lima]", salienta Alfredo.
O antigo pescador assegura que "a escassez é geral" e que por estes dias a lampreia do Lima e do Minho está a ser vendida a preços semelhantes. Entre "55 e 60 euros a grande e a pequena a 40 e 45 euros". Mas já atingiu "70, 75 euros e, na lota de Viana, chegaram a vender algumas a 78 euros mais IVA". Há restaurantes que "desistiram", diz, acrescentando que na ementa de alguns a iguaria "está a 120 e 130 euros".
Em Penafiel, onde até dia 20 está a decorrer uma rota dedicada à lampreia com a adesão de 10 restaurantes, a "fartura" não é a habitual e os preços subiram. Apesar disso, ainda pode ser degustada nos restaurantes sem marcação.
O produto vem da Afurada, do rio Douro. "Nota-se que não há a fartura de outros anos, embora a lampreia seja de boa qualidade. Vai dando para satisfazer a procura", confirma Vera Silva, da Confraria da Lampreia de Entre-os-Rios.
Uma dose de arroz de lampreia, que noutros anos custaria entre 80 a 90 euros, rondará agora os 120 a 130 euros. Tudo porque o produto comprado ao pescador anda mais caro. Quem leva para confecionar em casa tem um problema parecido. Devido à situação, a confraria optou por não realizar o evento previsto para abril. "Com a previsão de falta de chuva, não vamos arriscar e não ter lampreia ou não ser de boa qualidade", admite Vera Silva.
Em Penacova, a Câmara cancelou o festival, pois "a escassez no mercado agudizou-se e os fornecedores não conseguem abastecer os restaurantes".
Em Sever do Vouga, a Rota da Lampreia começou anteontem, mas o edil Pedro Lobo, "aconselha" a contactar "os restaurantes para verificar a existência ou não" de produto. Isto porque a safra, no rio Vouga, "está condicionada devido aos efeitos nefastos da seca prolongada".