Especialista em recuperação de fraudes financeiras: "As pessoas sentem-se atraídas"
Mário Pinheiro Torres, advogado especialista em recuperação de fraudes financeiras, traça o perfil dos burlados.
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Mário Pinheiro Torres, partner na Giambrone & Associados, Sociedade de Advogados, falou ao JN sobre o mercado onde muitos investidores são burlados devido ao sonho de enriquecerem de forma fácil e rápida. Não é preciso muito dinheiro para entrar nesse submundo onde os malfeitores sabem aproveitar alguma desregulação.
As fraudes financeiras na Internet têm vitimado mais portugueses devido à crise?
Penso que não. Há uma lógica de Bolsa no Forex [mercado onde se transacionam moedas e criptomoedas]. Infelizmente haverá sempre fraudes. Repare que mesmo na Banca tradicional vamos sempre conhecendo fraudes. Quem recorre ao Forex são pessoas que querem investir. Seja as suas poupanças, seja o dinheiro extra que sobra todos os meses. Não é preciso ser um grande investidor para entrar nestes mercados. Estamos numa crise inflacionista e as taxas de juro dos bancos não são de todo atrativas. As pessoas sentem-se atraídas por estes novos mercados e pelos potenciais ganhos que podem daí retirar. As aplicações são muito interativas e as pessoas são dessa forma aliciadas.
O perfil da vítima corresponde a alguém com grau académico, mas pouco preparado para detetar fraude?
Há um pouco de tudo. Temos clientes de todas as idades, diferentes graus académicos e com investimentos muito díspares. As plataformas de Forex são muito perspicazes a aliciar potenciais investidores. A capacidade individual de aferir a idoneidade das mesmas pode ser bastante difícil mesmo para o mais letrado dos investidores. A verdadeira fraude estabelece-se num momento posterior, quando aparentemente já está estabelecida uma relação de confiança entre o investidor e o "trader" da plataforma. É nesse momento que normalmente surgem os problemas.
Como se explica a aparente facilidade das fraudes?
A falta de legislação leva a que não sejam tomadas as medidas preventivas a que estão obrigadas as instituições financeiras tradicionais, pelo que não existe grande controlo, por parte de quem deveria promover esse controlo das plataformas para as quais são transferidos os valores. Normalmente, existe um intermediário entre o banco tradicional e a plataforma de Forex, e é nesta relação tripartida e por regular que surge a oportunidade para as fraudes.