Empresas garantem que há uma infestação e que é bem visível em hotéis e alojamentos locais. Direção-Geral da Saúde desconhece e associações hoteleiras desvalorizam o problema.
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O turismo em larga escala, devido à grande movimentação de pessoas, é uma das principais causas para o aumento exponencial da praga de percevejos de cama em todo o país, sobretudo nas unidades hoteleiras e nos alojamentos locais. Quem o garante é a Associação de Grossistas de Produtos Químicos (Groquifar), lamentando que os hotéis e similares não estejam obrigados a inspeções obrigatórias. Para já, a Direção-Geral da Saúde (DGS) desconhece a existência de qualquer praga por não ser de declaração obrigatória. A Rentokil, empresa multinacional especializada em desinfeções e líder de mercado em Portugal, assegura ao JN que os tratamentos para eliminar percevejos de cama aumentaram 475% nos últimos quatro anos.
Atacam em qualquer lado
Estas infestações não são exclusivas de estabelecimentos de preços mais baixos, podem atingir hotéis de cinco estrelas e todo o tipo de transportes, como comboios, autocarros e aviões. O alerta do alastramento dos percevejos, principalmente em Lisboa e Porto, já é feito pelos associados da Groquifar há mais de dois anos.
"Há uma praga e está a alastrar. Se, por um lado, os inseticidas mais fortes - que permitiram acabar com os percevejos no mundo ocidental nos anos 70 - foram banidos, por questões de segurança e saúde, por outro lado temos a explosão do turismo e foi este aumento da movimentação de pessoas entre países e continentes que fez disparar os número de casos", avança Daniel Oliveira, executivo da Rentokil.
O responsável explica que estes insetos, que se alimentam exclusivamente de sangue humano, "instalam-se nas malas dos passageiros dos aviões e é nessas condições que se facilita a propagação". Por sua vez, António Lula, da Groquifar insiste em sublinhar que "os bichos tanto aparecem nos alojamentos locais como em hotéis de cinco estrelas, precisamente porque as bagagens viajam todas juntas nos porões".
"Deveria haver todo um conjunto de práticas de prevenção obrigatórias, como, por exemplo, inspeções periódicas. Claro que tem custos, mas não se pode chamar as empresas especializadas só quando já existe uma vasta colónia e um problema grave", defende, acrescentando que trabalha há 25 anos nesta área e "só nos últimos anos se ouve falar outra vez, e tanto, destes insetos".
De acordo com os números da Rentokil, desde 2015 que 99,6% das empresas de controlo de pragas assinalaram pedidos de tratamento de percevejos de cama, quando até ali apenas 25% destas empresas tinham sido chamadas para este tipo de desinfestação.
Não há registos na DGS
Contactada pelo JN, a Direção-Geral da Saúde esclareceu que não teve registo de qualquer praga de percevejos de cama. Quando questionada sobre se os seus delegados de Saúde já fizeram alguma avaliação de risco, informou que "as pragas de percevejos não são de declaração obrigatória, logo podem acontecer sem os delegados de Saúde saberem".
Apesar de ser um problema que lhes pode afetar o negócio, as associações hoteleiras desvalorizam o tema. "Não tenho conhecimento de qualquer situação na hotelaria do Algarve. Há avenças com empresas especializadas em desinfestações que são feitas com regularidade", afirma Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis do Algarve. "Não temos conhecimento de pragas de percevejos", diz, por seu lado, a Associação de Hotelaria de Portugal.
Percevejos podem duplicar a cada 15 dias
Em qualquer fase de desenvolvimento, os percevejos são eliminados por uma exposição de sete minutos a uma temperatura de 46 graus. Os tratamentos térmicos normalmente envolvem aquecedores elétricos e um sistema de tubagem portátil que permitem elevar a temperatura ambiente na área tratada a níveis entre 54,4 graus e 71 graus. Estas desinfeções devem ser feitas apenas por empresas especializadas, porque estes bichos não morrem com tratamentos caseiros. As empresas habituadas a lidar com este inseto garantem que uma população de percevejos pode duplicar a cada 15 dias, pelo que inspeções periódicas deveriam ser obrigatórias.
Lá fora
Espanha
O aluguer de quartos particulares em Madrid, sem que sejam feitas desinfestações planeadas como nos hotéis, tem feito aumentar os casos de pragas de percevejos. Em 2015, uma empresa interveio em 240 edifícios e, há dois anos, em 357, um crescimento de quase 50%.
Argentina
Há cerca de um ano, um dos dois voos diários da companhia argentina LATAM - que faz a rota Buenos Aires-Miami - foi cancelado durante quatro dias consecutivos. O Boeing 767 teve de ser desinfestado por invasão de percevejos. Foi sujeito a uma desinfestação profunda no Brasil e, posteriormente, seguiu para o Chile para remodelação da cabina.