Dez milhões de gregos votam, este domingo, se querem ou não aceitar mais austeridade em troca da ajuda internacional, num referendo onde também se joga o futuro da Europa. Mas seja qual for o resultado, é provável que a crise e a instabilidade continuem.
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São já sete anos de sufoco económico, que ainda estará longe de terminar. Aconteça o que acontecer - ganhe o "Sim" ou o "Não"- a população grega vai ter de enfrentar novos tempos de incerteza, mesmo que esteja, como certamente está, exausta depois da longa e acentuada crise em que está mergulhado o seu país.
O pano de fundo não poderia ser mais dramático: controlo de capitais que levou, como se sabe, ao encerramento dos bancos durante toda esta semana, ameaças de que o apocalipse financeiro se vai abater sobre a Grécia, dirigentes europeus a apelarem ao "Sim" e os líderes gregos a pedirem que os gregos votem "Não" e a acusarem a União Europeia de fazerem "terrorismo" contra a Grécia.
A pressão foi-se avolumando durante os últimos dias e as sondagens e manifestações em Atenas têm expressado a divisão em dois na sociedade grega.
Compreende-se porquê. Nenhum dos resultados irá resolver praticamente nada e ambos irão trazer mais dificuldades do que soluções. A Grécia significa apenas 2% do PIB da União Europeia, mas nos últimos meses tem valido 100% das preocupações políticas europeias. Depois de anos de negociações e irritações nos corredores e salas de Bruxelas, quase todas as pontes foram incendiadas entre os gregos e os seus parceiros europeus.
Escolha impossível
A população que se tem associado ao lado do "Sim" defende que o colapso dos bancos e o regresso ao dracma é um alternativa pior do que prosseguir as políticas de austeridade, mesmo que reconheçam que as medidas impostas pelos credores devastaram economicamente o país. A austeridade provocou uma quebra de 25% no PIB e elevou o emprego a níveis sem precedentes nas últimas décadas na Grécia. Um em cada quatro gregos, segundo a Reuters, está sem emprego.
Para os defensores do "Não", são inaceitáveis a subida nos impostos e os cortes nas pensões que a União Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional querem incluir num acordo para continuarem a libertar fundos de assistência a Atenas. Os que preferem que o executivo helénico não aceite as novas medidas de austeridade concordam com Alexis Tsipras, que diz que a Europa está a "fazer chantagem "com a Grécia.
"Sim" ou "Não", instabilidade é certa
Não é certo o que vai acontecer depois de contados os votos. Yanis Varoufakis, o polémico ministro das Finanças grego, garante que os bancos vão reabrir na terça-feira e garante que há um acordo prestes a ser firmado entre o seu país e os credores.
Se a maioria votar no "Sim", é de esperar que Varoufakis e Tsipras apresentem demissão, provocando uma nova onda de instabilidade política que em nada vai facilitar a tomada de decisões. Os líderes europeus, incluindo Angela Merkel, já se mostraram disponíveis para negociar com o governo grego depois do referendo, mas resta saber qual governo vai ter pela frente e que novas condições a Grécia terá de aceitar, se quiser ter esperança em obter novos pacotes de ajuda financeira para lidar com a sua dívida.
Não é certo quanto tempo aguentará o país com mais uma nova de austeridade, nem quanto tempo a União Europeia manterá a determinação de ver um dos seus Estados-membros em permanente sofrimento social e económico. E a extrema-direita pode reforçar o seu poder na Grécia, em caso de eleições, com efeitos de contágio imprevisíveis no resto da Europa.
Se o "Não" vencer, a incerteza será ainda maior. Os gregos terão, a cumprirem-se as ameaças feitas pelos credores, de enfrentar uma possível saída da zona euro e a probabilidade de haver um colapso financeiro. Presume-se que haverá uma corrida aos bancos, dificuldades de liquidez e provável insolvência.
Os líderes europeus, apesar do veemente protesto de Tsipras e Varoufakis, têm estabelecido uma ligação direta entre o resultado do referendo e a vontade dos gregos em permanecer na zona euro e até na União Europeia. Caso o "Não" ganhe, é possível que sejam empurrados para a porta de saída do euro, com a consequente, pelo menos numa primeira fase, perda abrupta de riqueza das famílias. O efeito na economia europeia e mundial é desconhecido.
As urnas abrem às 7 horas e fecham às 17 horas (hora portuguesa). As primeiras projeções oficiais estão previstas para as 19 horas. Não parece provável que a Grécia, e com ela a União Europeia, irão ficar exatamente na mesma a partir de segunda-feira.