Nikos Antonopolous, 53 anos, está habituado a marés incertas, mas desta vez não vislumbra um porto seguro para a Grécia. Há cinco anos que o país anda à deriva e Nikos, capitão de um iate turístico, só vê tormentas pela frente. "A partir daqui vai ser bem pior. Há uma sombra que paira sobre nós e não vai embora tão cedo", prevê o marinheiro de pele bronzeada, num inglês muito acima da média.
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Em Atenas, ninguém consegue prever o que vai acontecer depois do referendo de domingo, mas todos acreditam que vai haver uma solução. "We will survive" (vamos sobreviver) é uma das frases em inglês que os gregos melhor articulam por estes dias.
Porém, foi com muitos "Oxi" ("Não") que o primeiro-ministro Alexis Tsipras foi recebido esta sexta-feira à noite no comício de apelo ao "não" no referendo, que juntou milhares de jovens, adultos, idosos e crianças na Praça Syntagma. A poucos quilómetros e à mesma hora, milhares de apoiantes do "Nai" ("Sim") marcavam presença no antigo Estádio Olímpico de Atenas. O centro da cidade foi vedado ao trânsito e a presença das autoridades mal se notava.
Voltemos ao requintado bairro de Kolonaki, onde Nikos está sentado num murete a ler o jornal e as informações sobre as manifestações que ocorreriam mais tarde. Os carateres gregos são indecifráveis, mas pela fotografia percebemos que está a ler sobre o momento político. É, aliás, o assunto de quase todas as conversas de café, nas praças e no metro, assegura-nos Christina, a tradutora grega que nos acompanha.
Praticamente todos os dias, Nikos transporta no iate turistas e gregos que passeiam pelas ilhas mais glamorosas do mediterrâneo. "Eu vejo bem o que se passa há muitos anos. Os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Esta tem sido infelizmente a história da Grécia. Por isso, quando me vêm dizer que a austeridade é para nosso bem, só posso concluir que algo não está bem".
Dois quarteirões acima, numa zona pacata de Kolonaki, Yannus está a ver passar a vida, sentado num banco de jardim desgastado pelo tempo. Tal como as traves de madeira do banco, por aquele engenheiro civil reformado já passaram muitos verões quentes. E ri-se alto quando lhe perguntamos como olha para toda esta confusão: "Está tudo fantástico, fantástico! É a típica confusão grega", ironiza, para depois explicar que é a "quarta vez" que vê a Grécia com os bancos fechados e a controlar os levantamentos de dinheiro.
Yannus tem 70 anos e uma reforma que emagreceu 40% nos últimos cinco. Garante que chega para sobreviver, mas não esconde a preocupação com os filhos, o mais novo sem emprego e a mais velha com um trabalho precário, a passar muitas dificuldades.
O desemprego na Grécia já atinge cerca de 25% da população ativa. E essa informação está estampada em milhares de cartazes e panfletos colados nas paredes a apelar ao voto no "Oxi" no referendo de amanhã. A propaganda ao "Nai", associada à austeridade, está menos difundida e é difícil encontrar alguém que admita que as políticas europeias sejam a solução de que a Grécia necessita.
Eugenios é uma exceção. Tem 32 anos, a cabeleira arrumada e a decisão mais do que tomada. O voto no "sim" é a única saída para o país e por isso decidiu tirar uns dias de férias e plantar-se na Praça Syntagma a distribuir panfletos a apelar ao "Nai". Não para um minuto e responde com um sorriso aos aparentes insultos de uma grega com opinião diferente.
Em Exarchia, um bairro boémio e anarquista de Atenas que poderá considerar-se o oposto de Kolonaki, Manos Venieris, 60 anos, dá uma no cravo e outra na ferradura. Na prática, crê que o primeiro-ministro Alexis Tsipras está bem intencionado, mas não sabe como resolver "toda esta confusão". O referendo foi um "ato de coragem", admira o ator e escritor, garantindo que votará "não" porque apenas o regresso ao dracma trará nova esperança ao povo.
Anastasia tem 51 anos, mas a idade não lhe dá certezas de nada. Ouve os argumentos de um lado e do outro e encontra razões lógicas nos dois. "Tenho o cérebro a ferver. Só no dia do referendo vou conseguir decidir onde pôr a cruz...". E afasta-se no deambular confuso de quem ainda não encontrou a saída para mais uma encruzilhada grega.