A Grécia disse, este domingo, um rotundo "não" à continuação das medidas de austeridade propostas pelos credores internacionais e fez a festa em Atenas. Mas o desafio grego deixa tudo em aberto e lança Europa para novo turbilhão.
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Era o resultado mais temido pelos líderes europeus e foi o mais inesperado, mesmo para os próprios gregos, que nos últímos dias viram as sondagens permanentemente a partir o país em duas metades quase iguais. Afinal, o "não" defendido pelo Governo de Alexis Tsipras, que agora poderá abrir uma nova porta nas negociações com as instituições, ganhou com 61,31% , contra 38,69% do "sim", num referendo queresgistou uma abstenção de 37,5%.
O resultado "mostrou que a democracia não pode ser chantageada", enalteceu o primeiro-ministro grego, secundado pelo ministro das Finanças. "Os gregos não podem pagar a dívida com sangue", disse Yanis Varoufakis, sugerindo que "a dívida deve ser negociada de forma amigável".
As reações dos governantes surgiram já depois de os gregos invadirem as ruas celebrando a vitória do "não". Mal saíram as primeiras sondagens à boca das urnas, milhares juntaram-se na Praça Syntagma para comemorar o que pensam ser "o começo de uma nova era". Helena Kayo, 50 anos, não para de sorrir e abraçar os que a rodeiam. "Acabámos de transmitir uma grande mensagem à Europa. Este é apenas o primeiro de muitos "nãos" que ainda vamos dizer". Aperta nas mãos um panfleto laranja que diz "OXI" (não). "Conseguimos, conseguimos ganhar", cantarola.
Do outro lado da luta, o vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, tenta arrefecer a festa. "Tsipras derrubou a última ponte de comprometimento que poderia conduzir a um acordo entre a Grécia e a Europa", declarou, assegurando que "é difícil imaginar novas negociações". Até poderá ser, mas não é essa a convicção dos gregos.
Na rua, cheira a salsichas e espetadas grelhadas. Há bandeiras gregas a voar, carros a apitar, o som de batuques a misturarem-se com a música popular grega. À volta da praça, os hotéis de luxo estão repletos de jornalistas de todo o Mundo a fazer diretos consecutivos das varandas. Os turistas observam e sorriem. O ambiente tenso dos últimos dias desanuviou-se, embora ninguém se aventure a prever o que vai acontecer nos próximos dias.
A chanceler alemã e o presidente francês tentaram abreviar caminho e solicitaram ao presidente do Conselho Europeu uma cimeira extraordinária da zona euro para amanhã. Apesar disso, tanto Angela Merkel como François Hollande fizeram saber que "concordam que o voto dos gregos deve ser respeitado".
E é esse respeito que os gregos esperam. "A Europa vai ter de mudar a sua postura arrogante", acredita Giusy Campo. "Vamos conseguir melhores condições", assegura Isabel Perez, natural da República Dominicana. Vive em Atenas há mais de 30 anos e está consciente das dificuldades que estão por vir. "Os gregos criaram a democracia há uns milhares de anos e hoje estão a recriá-la", analisa Francesco Neri, italiano, que viajou de Roma até Atenas de propósito para acompanhar o resultado do referendo.
A maioria dos apoiantes do "não" está convencida que o resultado não deverá empurrar a Grécia para fora do euro. "Fazemos parte da Europa, não podem mandar-nos embora. Estou orgulhosa de ser grega e estou muito orgulhosa da coragem que mostrámos", diz Yoanna.