A Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial considerou, esta quarta-feira, "incompreensível a justificação" dada pelo Governador do Banco de Portugal de que o pagamento do papel comercial pelo Novo Banco seria "abrir a caixa de Pandora".
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O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, justificou na terça-feira, na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES, a impossibilidade de o Novo Banco se responsabilizar pelo pagamento do papel comercial adquirido por clientes de retalho aos balcões do BES com a abertura de um precedente perigoso.
Em reação a estas declarações do governador, Ricardo Ângelo, da Associação dos Indignados do Papel Comercial (AIEPC), disse à agência Lusa que Carlos Costa "não pode escolher só a parte boa de toda a situação".
"Se o BES assumiu que iria pagar a dívida do GES, que é da Rioforte e da ESI, e isto está provado, está na ata do próprio BES, porque é que essa divida, que o BES assumiu, não transita para o Novo Banco? Porque é que só há-de escolher a parte boa, que é 'nós continuarmos a ser clientes do Novo Banco, a pagar os nossos créditos, a usar os cartões de crédito, as contas do nosso banco', mas depois a parte menos boa, que é a responsabilidade de o Novo Banco nos pagar, já não dá", declarou.
De acordo com Ricardo Ângelo, a situação "é incompreensível" e a associação não percebe como é que se está a abrir uma caixa de Pandora.
"Não vemos qual é o risco. Se o BES assumiu, em comunicados, pagar a última tranche do papel comercial [paga pelo BES em julho sem juros porque a empresa Rioforte já estava falida] e se o próprio Banco de Portugal disse que a provisão passou para o Novo Banco cabe ao Novo Banco pagar", sublinhou.
Ricardo Ângelo vincou à Lusa que os clientes lesados "sentem-se enganados", quer pelo Novo Banco, quer "pelo seu mentor", o Banco de Portugal.
A expressão "caixa de Pandora" foi por várias vezes usada na terça-feira pelo governador ao longo da sua audição na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES/GES, tendo Carlos Costa, a determinada altura, admitido existirem situações específicas de investidores prejudicados que o tocaram.
"É óbvio que me custa muito [ouvir] alguém que vá para a porta da minha casa chamar-me gatuno. Foi a pior coisa que me chamaram em toda a vida", sublinhou.
Nas declarações à Lusa, Ricardo Ângelo, da AIEPC, lamentou a situação que se desenvolveu junto à casa do governador.
"Nós entendemos como se sente o senhor governador, mas é muito difícil controlar as pessoas. Não queríamos ofender o senhor governador ao pé da casa dele. Nós íamos para lá fazer uma manifestação silenciosa, mas depois as coisas descontrolaram-se e não conseguimos controlar as palavras das pessoas", adiantou.
Ricardo Ângelo defendeu que Carlos Costa "não deve levar as pessoas a mal", porque estas se sentem ludibriadas e perderam tudo.
A Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial vai reunir-se na próxima sexta-feira com a administração do Novo Banco para falar sobre a situação.
"A associação está de boa-fé e comprometemo-nos até à reunião que não vamos fazer qualquer tipo de manifestação", concluiu.