Aumentos no gás chegam a multiplicar por 12, a que se juntam a eletricidade, os combustíveis e as matérias-primas, que também escasseiam nalguns setores.
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A escalada nos custos da energia está a obrigar as empresas a parar a produção, enviar milhares de trabalhadores para lay-off e perder contratos de exportação, vitais para a economia nacional. Os industriais queixam-se de que o gás subiu 10 a 12 vezes e as transportadoras somam milhões de euros de prejuízos. "Os sinais mostram que o colapso pode estar a chegar, a curto prazo, a muitas empresas", avisa Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP).
As indústrias transformadoras consomem um terço de toda a energia de que o país precisa anualmente. Além dos aumentos até 12 vezes na conta do gás, enfrentam "o peso do transporte, da logística, a que acrescenta a falta de matérias-primas", explica o presidente da AEP.
"No setor da cerâmica, a AEP tem informação de empresas que estão a desligar os fornos e a iniciar processos de despedimentos", revelou Luís Miguel Ribeiro. "As empresas do setor de transformação de papel reportam um aumento dos custos de energia 12 vezes superior à situação observada em setembro de 2021. No setor da cablagem, há empresas a reportarem o fecho a novas encomendas. Há empresas dos setores do calçado e do têxtil a reportarem fortes constrangimentos ao nível dos transportes, a par dos aumentos dos custos energéticos", enumera.
Segundo o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, "muitas empresas pararam a produção durante alguns dias, na expectativa de que os preços da eletricidade e do gás natural baixem para poderem retomar a laboração". Mário Machado explicou que "o custo de laborar é muito superior ao custo de estarem encerradas".
Situação idêntica à da cerâmica, que tem, até agora, sete empresas da Região Centro paradas e um milhar de trabalhadores em casa. O presidente da Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e Cristalaria teme que, em abril, haja "mais encerramentos, à medida que os contratos de energia vão sendo renovados". José Sequeira explicou ao JN o motivo pelo qual trabalhar significa perder dinheiro: "A fatura anual de energia do setor é de 220 milhões de euros, mas com os aumentos sobe para 2,2 mil milhões de euros - mais do que o volume de negócios total, que ronda 1,3 mil milhões de euros". Cerca de um terço dos negócios correspondem a exportações, que estavam a crescer 28% em janeiro, mas que vão parar porque "não há como cumprir contratos".
Falta matéria-prima
Os industriais da metalomecânica somam, aos custos da energia, que "mais do que triplicaram", a dificuldade em "adquirir matéria-prima, que já era complicado, mais ainda quando alguns produtores europeus encerraram devido ao custo do gás". Rafael Campos Pereira antevê "a possibilidade de haver paragens" numa altura em que as encomendas crescem (e as exportações - 7% em janeiro). "São urgentes medidas de proteção do emprego como o lay-off simplicado", apela o vice-presidente da AIMMAP.
As transportadoras reclamam também apoios do Governo para aguentar os aumentos de custos, que representam já 70 milhões de euros no caso do transporte de passageiros.
Covid-19 e guerra explicam preços
Petróleo
- Volatilidade
Não há falta de petróleo no Mundo, mas o segundo maior exportador mundial - a Rússia - está sob sanção, o que estimula a subida de preços. Já havia especulação sobre as cotações do "ouro negro", mas desde 2008 que não se viam preços tão altos. Os combustíveis dispararam para valores que se repercutem na produção agrícola, nos transportes e nas famílias.
Eletricidade
- Seca e gás encarecem
As ameaças da Rússia sobre fechar fornecimentos de gás à Europa e a própria guerra atiraram os preços para máximos de sempre. A eletricidade já estava em máximos devido à baixa produção renovável, nomeadamente devido à seca, e também foi afetada, pois parte da produção depende de gás.
Metais
- China e Rússia afetam
A valorização dos metais começou durante a pandemia, devido à diminuição de fornecimentos da China, e agravou-se com a guerra na Ucrânia, uma vez que os preços da energia dispararam em toda a Europa e as fundições e metalúrgicas pararam. Aço, alumínio, cobre, ferro, níquel e estanho estão entre os que mais faltam à indústria.
20,7% aumento de preços na produção industrial em fevereiro, segundo o Instituto Nacional de Estatística, impulsionado pelo "aumento da energia e das matérias-primas".