A ministra das Finanças admitiu esta terça-feira ter questionado a Parvalorem, empresa que gere os ativos tóxicos do ex-BPN, sobre as expetativas "demasiado pessimistas" sobre os prejuízos de 2012, mas rejeitou novamente qualquer espécie de manipulação de contas.
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"Fiz a pergunta [se as perdas registadas nas contas de 2012] podiam ser mais otimistas porque me pareceu que a expetativa estava excessivamente negativa quanto àquilo que seria a evolução da economia e da capacidade de efetivamente os créditos serem satisfeitos", afirmou Maria Luís Albuquerque aos jornalistas da RTP, SIC e Antena 1, numa deslocação à Moita (Setúbal).
Segundo uma investigação da Antena 1, quando a ministra soube, em fevereiro de 2013, que as contas da empresa pública responsável pelos ativos de má qualidade do ex-Banco Português de Negócios (BPN) apresentavam perdas de 577 milhões de euros com créditos em riscos de incumprimento, o que iria agravar o défice orçamental, pediu à administração da Parvalorem que mexesse nas contas para que estas revelassem um cenário de perdas mais otimista do que o real, reduzindo os prejuízos reconhecidos em 2012.
Maria Luís Albuquerque disse agora que "não poderia pedir nunca para manipular ou ocultar [contas]" porque "não é uma coisa" que tivesse poder para fazer, sublinhando que podia, no entanto, "perguntar se as expetativas não estariam a ser demasiado pessimistas", ou seja, se não haveria "uma expetativa exagerada de perdas" que poderiam nem se concretizar no futuro.
"Quando essas perdas ou ganhos se materializam são sempre registadas nas contas da empresa e são sempre registadas nas contas públicas. Não é nada que se possa ocultar, disfarçar, manipular de alguma forma", frisou.
O Conselho de Administração da Parvalorem, tutelado pelo ministério das Finanças, já tinha recusado anteriormente a manipulação de contas, realçando que o fecho de 2012 "não foi mais do que um normal exercício" dos serviços de auditoria, contabilidade "e sob a exclusiva responsabilidade do Conselho de Administração".
O Conselho de Administração da Parvalorem acrescentou, num comunicado, sentir-se "gravemente lesado na sua honra e dignidade profissional, já que mais não ocorreram do que procedimentos normais em qualquer empresa com este perfil e objeto social".
O Ministério das Finanças explicou igualmente num comunicado que "o registo contabilístico de imparidades é função de estimativas de perdas futuras em créditos existentes", acrescentando que "as imparidades são avaliadas e validadas pelos auditores das empresas de acordo com os critérios definidos para o efeito e adequadamente refletidas nas contas".
Segundo o Governo, "qualquer materialização ou não dessas perdas é sempre registada nas contas da Parvalorem no momento em que se verificam, com o correspondente impacto nas contas públicas, pelo que não há qualquer manipulação ou ocultação de contas".