Famílias experimentam diversas variedades e técnicas, em busca de alimentos saudáveis. Há grupos online com mais de 4000 membros e aumentos de 150% na venda de farinhas.
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Já era uma tendência, mas a pandemia fez aumentar o número de pessoas que faz pão em casa, o que chegou a levar à rutura do stock de farinhas nalguns estabelecimentos. O alimento está na moda e, hoje, data em que se assinala o Dia Mundial do Pão e o Dia Mundial da Alimentação, a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, assinala as efemérides com uma visita à Oficina da Esquina, em Lisboa, para ajudar a confecionar pão com cereais portugueses.
Em Évora, quando a pandemia atirou Ana Chambel, o marido e o filho de nove anos para casa, a alentejana meteu as mãos na massa. "Cresci a ver o forno comunitário da aldeia dos meus pais a funcionar e decidi experimentar", conta Ana Chambel, que aproveitou para "reunir a família" à volta do novo ritual. Começou a divulgar as experiências nas redes sociais e criou o grupo "pãodemia", que rapidamente juntou mais de 4 mil membros, "de norte a sul de Portugal, do Brasil, Angola, Suíça e outros países", conta, surpreendida.
O apelo da massa mãe
No Porto, Isabel Silvestre também tem passado a pandemia a amassar. "Intensifiquei com a pandemia porque fiquei em isolamento e queria pão fresco", relata, explicando que pretende continuar depois de a covid-19 passar e quer saber mais sobre a "massa mãe e fermentações naturais" porque são "mais saudáveis".
Durante o confinamento, conta Mário Rolando, padeiro e estudioso do pão, muitas pessoas "passaram a cozinhar e fazer pão em casa". Há, também, diz, uma procura maior por "fermentações longas e matérias-primas selecionadas", porque as pessoas querem alimentos "saudáveis e de qualidade".
Esta tendência levou algumas empresas e a grande distribuição a procurar "alterar processos" e as variedades que confecionam, pois, até agora, o pão era feito "de forma muito rápida e com aditivos", conta Mário Rolando. Mas "não é fácil mexer na organização das empresas" e há, também, "uma grande confusão em termos de informação", alerta.
Farinha esgotou
A Moagem Carlos Valente, uma empresa familiar em Vale de Ílhavo, viu a procura disparar "150%" e no início teve dificuldade em "responder à procura", conta Helena Resende, da moagem.
"Faltou farinha nos supermercados e recebemos muitos pedidos. Até apressamos a abertura da loja online", acrescenta. A procura já "diminuiu, mas mantém-se elevada e agora é constante", diz Helena Resende, explicando que as pessoas procuram "farinha de moagem de pedra e querem saber a origem dos cereais", sinal de que estão "mais conscientes sobre o que comem".
A Cerealis, um dos maiores grupos nacionais na área das farinhas, já havia registado um "ligeiro crescimento" das farinhas de uso doméstico nos primeiros meses do ano, mas "o grande impulso deu-se nos meses de confinamento (março e abril) com a procura a duplicar". A procura depois abrandou, mas "continua a demonstrar uma dinâmica positiva", revela a empresa, que, além das farinhas de trigo, regista mais procura por " farinhas para pizas, de alfarroba, aveia, de espelta, trigo-sarraceno", entre outras.
Outros dados
Tem 4 mil anos
O primeiro registo do pão recua a 4 mil anos a.C. Os egípcios fermentavam uma massa de trigo, que serviam para alimentar o povo. Mais tarde, os romanos espalharam o consumo de pão pela Europa.
Duas efemérides
O Dia Mundial do Pão foi instituído em 2000, em Nova Iorque, pela União Internacional de Padeiros. Assinala-se na mesma data do Dia Mundial da Alimentação, que marca a fundação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.
Diversidade
Existem pães com vários formatos, técnicas de confeção e de cozedura e produzidos a partir de diversos cereais (trigo, centeio, milho, cevada, espelta, trigo integral, entre outros), o que dá origem a diferentes valores nutricionais e características organoléticas.
Saudável é "caro"
Mais de 70% dos portugueses considera que a alimentação saudável e sustentável é demasiado cara e apenas 15% concorda em pagar mais para mudar o seu consumo, de acordo com um estudo feito com a colaboração da Deco Proteste.