Há mais 2400 toneladas de sardinha para pescar e o regresso à "normalidade" deve fazer subir os preços.
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Mais sardinha para pescar, o fim das restrições, a esperada retoma no turismo, o regresso em força dos santos populares e dos arraiais. Tudo motivos para fazer sorrir os mais de dois mil pescadores da sardinha. Depois de dez anos a "apertar o cinto", o stock está "totalmente recuperado" e "há abundância em todo o país". Agora, é só esperar que "o preço suba um bocadinho". A safra começa hoje depois de cinco meses de paragem.
"Tudo indica que vamos ter um verão em cheio. Penso que haverá aqui uma lufada de ar fresco", afirma, satisfeito, Agostinho Mata, o presidente da Propeixe - Cooperativa de Produtores de Peixe do Norte, que agrega 24 barcos da pesca do cerco, a trabalhar em Matosinhos e em Peniche.
Quota mais do que duplicou
Em 2020, os dados recolhidos pelos cruzeiros científicos vieram dar razão aos pescadores: há 15 anos que não nascia tanta sardinha no mar português e o stock cresceu 66%. Em 2021, o ICES (Conselho Internacional para a Exploração do Mar) rendeu-se às evidências e a quota nacional mais do que duplicou, passando das 12 700 para as 27 mil toneladas.
Os pescadores, que durante quase uma década trabalharam quatro meses por ano, viram a faina crescer para os seis meses e meio. "Foi um bom ano", diz Agostinho Mata. Mas, apesar de tudo, as restrições da pandemia, o cancelamento dos santos populares e alguma retração no turismo não trouxeram a procura e o consequente aumento de preços desejado. Valeu o biqueirão, que continua a surgir com alguma abundância e permitiu à pesca do cerco "equilibrar as contas".
Humberto Jorge, da ANOPCERCO (Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco), admite que o preço ficou "um bocadinho abaixo", mas o importante, frisa, é que a pescaria pôde ser prolongada até novembro, "um passo fundamental para a rentabilidade das embarcações".
boas perspetivas
Fechado o ano de 2021, o cenário continua animador: apesar da duplicação das capturas, a quantidade de sardinha no mar aumentou. A quota ficou nas 29 400 toneladas (mais 2400 do que em 2021). Já este ano, o cruzeiro científico da primavera, realizado em abril, ainda não tem resultados oficiais, mas, dizem os pescadores que lá andaram, "há grande abundância de sardinha e em toda a costa".
"Para nós o mais importante é saber que o recurso está totalmente recuperado e, mais do que o preço - que se espera que seja justo -, é fundamental prolongar a safra o máximo de tempo possível", frisa o presidente da ANOPCERCO.
Ajudam os santos populares e os arraiais, espera-se que o turismo dê um empurrão e também, diz Humberto Jorge, "que a indústria conserveira aproveite esta relativa abundância e se abasteça no mercado nacional".
A escalada dos preços dos combustíveis, agravada pela guerra na Ucrânia, é um fator a ter em conta: "Esperemos que a quantidade e qualidade - tamanho e teor de gordura - da sardinha possam compensar o aumento dos custos de produção", remata Humberto Jorge, lembrando que houve ainda - embora ligeiro - um aumento dos limites diários de captura.
Os barcos regressam hoje ao mar e a ministra da Agricultura estará em Matosinhos apadrinhar a partida. Agora, diz Agostinho Mata, é ter fé que os santos deem uma ajuda a uma boa safra.
Limites diários
Apesar do aumento de quota, a safra começa com cautelas: um máximo diário de 144 cabazes para barcos com mais de 16 metros (96 cabazes para barcos entre os 9 e os 16 metros e 44 cabazes para embarcações até 9 metros).
Pausas obrigatórias
É proibida a captura aos feriados e obrigatória uma pausa de 48 horas ao fim de semana. Se for detetada mais de 30% de sardinha muito jovem numa determinada área, pode haver fecho em tempo real.